AS JANELAS DO MEU MUNDO

 

Sempre gostei de janelas... Na infância as janelas eram duas folhas de madeira e tinham tramelas. Eu via a imensidão do verde, da terra de chão batido, da horta, das galinhas explorando o terreiro. Nos dias de chuva, da janela, queria contar as gotas da cortina de lágrimas que descia do telhado. Com o carregamento dos anos fui conhecendo outras janelas. E fui descobrindo que gostava muito mais de janelas do que imaginava. Algumas tinham minhas preferências: as que se abriam para jardins, pomares e mares. As que se abriam para os movimentos que passavam indiferentes a minha presença. Não gostava, e ainda não gosto, das janelas que se abrem para telhados e muros. Gosto de janelas que se abrem para o mundo, das janelas que moram em casas. As janelas que moram em apartamentos têm pouca visão. Elas têm a visão da superioridade, olham tudo de cima para baixo, a única vantagem é que olham e não são vistas. Passei muito tempo fazendo pouco uso das minhas janelas, no entanto agora, estou vivendo um tempo em que elas estão me mostrando um mundo que eu nunca vi em tantos anos morando com elas.

Hoje, acordei com o sol batendo na janela, ele insistiu tanto que levantei da cama e fui abrir os olhos lá fora. Quase não enxergo nada tamanho o brilho que se abriu na minha frente. Aos poucos fui vendo o Parque do Ingá cheio de árvores com bandos de pássaros cantando. Fiquei um tempo com o nariz colado no vidro e os ouvidos atentos aos sons.

Chegando na cozinha abro outra janela e o Muro das Lamentações está ali, bem na altura dos meus olhos. Olho o espaço onde deixei meu recadinho. Ele ainda está ali, na fresta das pedras, adormecido pelo tempo, manchado pela espera. Sento para tomar café de frente para a janela e fico vendo o movimento de gente que vem rezar, lamentar, deixar seus bilhetinhos.

Saio pela casa abrindo janelas. Agora estou de frente para a Fontana di Trevi. Vejo Netuno com seus cavalos e posso jogar minha moeda sem ter que pedir licença para a multidão. Ouço o barulho da água deslizando sobre o mármore e uma pomba vindo beber água. Deixo Netuno e vou para o Rio de Janeiro. As palmeiras imperiais do Jardim Botânico estão sofrendo com o frio gaúcho, será necessário cobri-las para que continuem crescendo. As estrelitzias, aqui no parque Keukenhof, sobrevivem bem ao inverno, não preciso me preocupar com elas. Que variedade enorme de tulipas, nunca vi tantas cores juntas. Acho que esse é o parque mais lindo que eu já vi!

Saí da Holanda e estou chegando na Bahia. Que maravilha essa plantação de mamão. Da minha janela vou pegar um mamão com a minha mão. Estou nesse pensamento quando Maria grita da cozinha:

– Vai demorar muito abrindo essas janelas? Parece que estás descobrindo o mundo!

– Descobrindo não, estou inventando...

Ione da Silva Grillo
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 28/01/2024
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