Uma humilhação desnecessária
Tempos atrás, no meu aniversário, meus pais me deram de presente o livro Médico de homens e de almas, que é a história romanceada de São Lucas, um dos evangelistas. Neste livro, Lucas é Lucano, filho de dois ex-escravos gregos que sonha em ser médico e se torna protegido do antigo senhor dos seus pais e discípulo de outro ex-escravo que é médico, chamado Keptah, o qual começa a instruí-lo na arte de curar. Lucano, que vive em Roma e nunca conheceu o peso da escravidão, vai um dia com Keptah a algum lugar(não lembro qual era) e chama a atenção de um mercador de escravos, que fica interessado na boa aparência do jovem e pensa que Keptah é seu dono. Keptah, em vez de desfazer o engano, deixa o homem avaliar Lucano, que se sente humilhado ao ser avaliado como uma mercadoria até Keptah dizer a verdade.
Quando o homem vai embora, Lucano reclama com Keptah, o qual explica que queria lhe ensinar como é ruim ser escravo. Esta cena nunca me saiu da cabeça e hoje, ao relembrar o livro, só posso concluir que a lógica de Keptah é muito estranha e que a humilhação sofrida por Lucano foi desnecessária. Pensemos em experiências como o bullying e o abuso sexual. Alguém precisa passar por isso para saber como é horrível? Tudo o que posso dizer a respeito do bullying é que eu não o desejaria para o meu pior inimigo. Ninguém merece ou precisa ser perseguido, agredido e humilhado (muitas vezes sem motivo) e não há nenhum estudo comprovando que alguém tem que passar por isso para amadurecer e se tornar uma pessoa melhor.
Atualmente, acredito que foi um erro da autora escrever tal passagem. Lucano não precisava ser confundido com um escravo e avaliado como se fosse um animal ou qualquer outro tipo de mercadoria para entender o que significava ser escravo. Qualquer um que vivesse naquela época e observasse o mundo à sua volta saberia que não era nada bom ser escravo.