SAUDADES SIM TRISTEZA NÃO.

As lembranças do meu tempo de criança são maravilhosas, algumas ainda muito vivas na memória, já outras, são nuvens fugitivas. Somente depois de certo tempo que percebemos que aqueles instantes do passado foram maravilhosos e especiais. É depois que nos damos conta do quanto poderíamos ter aproveitado, situações, lugares, pessoas, enfim, a memória revela aos poucos nossa incapacidade de saber aproveitar. Talvez o hoje seja esse seu momento único, especial, e você não consegue perceber isso, temos esse defeito, essa falta de valorização do que está em nossas mãos, do saber identificar as boas coisas da vida, somente na perda, na ausência notamos o valor de tudo aquilo.

Quando criança eu morei em uma fazenda chamada Lindoya em Minas Gerais. Era enorme, havia uma sede onde os donos regularmente ficavam, criava-se gado, havia uma usina de aguardente ( cachaça), e tantas outras coisas. Essa fazenda teve sua era de ouro, e nessa era de prosperidade, o meu avô materno, senhor Raimundo Batiliere, era um dos administradores, responsável pelos muitos trabalhadores da época. Casado com minha avó, Nair, teve nove filhos. Tive a felicidade de conviver na minha tenra infância em casa de meus avós. É justamente sobre isso que desejo falar nessa crônica, minha avó materna.

A minha avó sempre foi muito amorosa com todos nós, também não deixava de ser austera na criação dos filhos e com os netos quando necessário. Morávamos na fazenda, dos nove filhos da avó, somente minha mãe que ficou por lá depois que casou, os demais filhos bateu asas para São Paulo, portanto, eu fui o primeiro neto a nascer debaixo de seus olhos e das asas da vó. Os meus pais contam que meus avós faziam questão de me tirar do berço ainda cedinho e levar para casa deles, que era relativamente próximo. O meu avô antes de partir para o trabalho chegava comigo no colo e dizia para minha avó: "Nair, cuida desse menino que Elenice não sabe cuidar", e lá ficava este ser quase o dia todo.

Aquela expressão de hoje em dia, "Você foi menino criado com avó", se aplica perfeitamente comigo. Quando em tenra idade, talvez entre os meus nove e dez anos, o meu avô materno mudou-se para São Paulo, mas, a ausência não duraria muito, antes de completar doze anos, vô Raimundo veio me buscar para morar com eles em São Paulo, não pensei duas vezes, arrumei as malas e adeus Minas Gerais. Enquanto minha mãe e irmão se acabavam em lágrimas na rodoviária, eu, acenava da janela do ônibus, eufórico por conhecer esse novo mundo chamado São Paulo. Eu não tive medo, estava debaixo das asas da minha avó.

De doze anos até aos vinte, morei os dois avós. O céu chamou vovô não muito depois, foi difícil demais ficar sem ele. O meu tio Fernando, o filho mais novo, não havia se casado ainda, passou a ficar nós três, áureos tempos na vila Brasilina. A minha avó cuidou de mim e me amou muito mais do que um simples neto dela, me amou como um filho. Foram momentos que jamais vou esquecer... Essa semana os céus chamaram minha querida avó, na altura de seus oitenta e sete anos. Foi um golpe duro para todos nós, principalmente para esse que vos escreve. Que Deus a receba de braços abertos no céu. E como ela sempre ensinava quando alguém partia para o outro lado da vida; "Saudades sim meu filho, tristeza não".

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 28/01/2024
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