A CONSTRUÇÃO
O céu carregado de nuvens negras. Um anoitecer antecipado; não por um eclipse lunar, mas porque ocorria uma mudança brusca na atmosfera. Estava preste a desabar um grande temporal e eu andava apressadamente: queria fugir da tempestade. Temia os raios e que as ruas alagassem rapidamente.
Ao atravessar uma das ruas do Bairro Auxiliadora, precisei parar e aguardar um pouco, pois o trânsito estava intenso. Todos fugiam ou buscavam um refúgio. Nisso, olhei para o alto de uma árvore, de onde vinha um intenso ruído e deparei-me com uma realidade que me fez esquecer que desejava refugiar-me da tempestade. Na janela de um prédio, havia três casas de João-de-barro; não uma ao lado da outra, mas uma sobre a outra. Um verdadeiro edifício de três andares! Belíssima construção! A mais natural e fascinante que eu já vira.
Com tal cena, não me lembrei de meus objetivos. Apaguei-os da memória e passei a caminhar vagarosamente. Já não pensava em me refugiar da tempestade, pois sem perceber, abrira as comportas do refúgio das minhas "tempestades", aquelas que escondi por aproximadamente trinta anos. A chuva caia fria e eu me sentia leve e em paz. Corpo e alma lavados.
O tempo passará; entretanto, não apagarei da minha memória, a gostosa sensação de liberdade de um passado cheio de tristezas e de amarras, assim como a chegada dos pássaros a seus apartamentos na hora da tempestade, os quais voam suavemente, como se nada estivesse acontecendo.
Os engenheiros e arquitetos que se cuidem! Estão pintando no mercado concorrentes super habilidosos.