UM DIA AINDA VOU CONHECER SALVADOR.....(.....ESPERO NÃO MORRER ANTES .....)

 

 

    Como é que alguém poderia definir Salvador ? Cidade alegria, Terra da ginga, Paraíso na Terra ou Cidade onde as festas começam mas nunca terminam ?

     Tenho o atrevimento de dizer que nem mesmo Dorival Cayme, Jorge Amado e Caetano Veloso conseguiram uma definição justa. Pelo que consigo imaginar, Salvador é muito mais do que tudo o que já foi dito, escrito, contado e cantado.

    Desde quando era criança ouvia dizer que o homem só se realiza quando planta uma árvore, escreve um livro e tem um filho. Já plantei algumas árvores, não sei se tenho capacidade para escrever um livro (escrever até se dá um jeito, a questão é se alguém vai comprar) e filho, minha mulher me deu dois.

    Quando criança também deveriam acrescentar que para o homem se sentir realizado teria que conhecer Salvador.

    A cidade deve ser mágica assim como todo baiano e toda baiana são mágicos. Acredito que em Salvador tudo seja bonito, mesmo o que for feio. É interessante alguém achar o feio bonito, mas o baiano tenho certeza que consegue.

    E aquelas comidas, e as pimentas e o mar da Bahia ? Pode ser que por aí tenham coisas mais gostosas e mais bonitas mas nenhuma delas é igual as de Salvador.

    E as festas ? É durante o ano todo! Creio que o baiano as vezes lamenta que cada ano só tenha 365 dias, pois se tivesse mais, festa é que não faltaria.

    Certa vez aqui no Rio de Janeiro, em pleno Largo da Carioca , vi uma negra lindíssima, bem redondinha e aparentando ter quase setenta anos. O sorriso dela era único, magnético, hipnotizador. Ela estava com aquela roupa branca típica das baianas e fritava uns bolinhos amarelos num grande tacho. Fazia calor mas ela não dava a menor importância. Não resisti e pedi para provar um dos bolinhos.

    A bela baiana só me recomendou para ter um pouco de cautela com a pimenta. Ainda bem que fui avisado porque a pimenta era daquelas que incendiava qualquer língua. Mas o bolinho, estava divino ! (soube depois que se chamava acarajé).

    Algo que me encanta no povo baiano é que estão sempre rindo ou dançando. Ainda não vi, em fotos ou filmagem, nenhum baiano triste. Chorando, só de alegria. Até nas tristezas e nas tragédias o baiano é diferente.

    Meu filho teve o privilégio de conhecer Salvador. Após uma longa viagem de carro chegou a tardinha e a primeira preocupação foi buscar um lugar para pernoitar. Não teve dificuldade de encontrar. Ao perguntar ao recepcionista do pequeno hotel onde poderia guardar o carro, ouviu a doce explicação : “Se preocupa não moço, pode deixar aí na porta mesmo. Mas se quiser ficar mais tranquilo, pode deixar aí na garagem de frente que é de confiança.”

     O carro dormiu na garagem de frente, meu filho jantou muito bem e dormiu tranquilo. No dia seguinte, por volta das nove horas bateu na porta da garagem. Ninguém atendeu. Uma mulata que ia passando, disse para o meu filho : “Ih! Moço, se preocupa não! O povo aí não tem hora para abrir, ainda é muito cedo.”

    Meu filho, que estava com a esposa, não se preocupou e aproveitou para dar umas voltas e também benzer umas fitinhas na Igreja do Senhor do Bonfim. Demorou mais do que imaginava e, antes de pegar o carro, resolveu almoçar. Almoçou muito bem e bateu na porta da garagem. Estava aberta e um negro alto e forte, com o cabelo cheio de cachinhos e missangas atendeu depois de um longo tempo.

    Veio gingando na direção do meu filho sorrindo e disse : “Se preocupe não moço, o carro tá bem guardado”. Meu filho disse que não estava preocupado , só estava com pressa.

   O baiano, falando bem devagar, preguiçosamente repetiu: “ Tenha pressa não, moço. Já vou pegar seu carro.”

    Como o atendente estivesse demorando, meu filho , já preocupado, foi ver o que estava acontecendo. Olhou pela janela da cabine e viu o atendente deitado num sofá velho, tendo ao lado uma bela mulata que fazia carinho nos seus cachinhos.

    Surpreso, meu filho perguntou pelo carro. O rapaz respondeu com aquela serenidade de monge: “Tenha pressa não, moço, já tô indo pegar.”

    Demorou bem mais que um pouquinho e com o sorriso que só o baiano tem devolveu o carro e voltou para os braços da mulata.

    Tem vida melhor que essa? Pressa prá quê? Tem povo mais feliz que esse ? A grande verdade é que, não quero parecer apressado mas se possível, se Papai do Céu permitir, se o povo baiano concordar, espero poder visitar Salvador antes, muito antes, bem antes de.....digamos....morrer!

    Só assim, quem sabe, eu consiga entender o que realmente quer dizer : axé!

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 31/12/2007
Reeditado em 05/01/2013
Código do texto: T798482
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