CONVERSA DE BOTEQUIM

Conversa fiada é aquela que se fia, mesmo sendo uma grande lorota. No balcão da venda, na mesa do bar ou do botequim, se bate-papo sobre tudo. Vai da política, economia, guerras, tecnologia, ida para Marte, traições e as quebradeiras. Mas, futebol, mulher e resenha sobre os amigos, são de longe, as top of minds.

Em Barrocas tenho um amigo que sempre é o primeiro a chegar e o último a sair. Certo dia lhe perguntei por que tanta devoção. Ele disse que era medo de que na sua ausência alguém começasse a falar dele. Essa maneira leve de viver é cultural e faz parte do imaginário e do inconsciente coletivo. Sem querer entrar nessa questão, não que não goste, mas por não ter profundidade, posso citar Freud, Jung e Wilhelm Reich, sem medo de errar.

O mundo simbólico é necessário e faz parte da história de um povo. Não podemos pensar o Brasil sem a Bahia. A Bahia é a Bahia, terra mãe, por onde tudo começou. Primeira igreja, primeiro governo, primeira faculdade de medicina e etc… Carlos Drummond sabiamente se refere à Bahia como mãe crespa de todos nós, em referência a sua forte etnia ancestral e a maior representação da africanidade no novo mundo.

Temos imagens simbólicas fortes, cito os orixás, a igreja do Bomfim, lavagem do Rio Vermelho, Zumbi dos Palmares, o samba, a capoeira, o candomblé e seus ialorixás, e o carnaval. Temos também na fauna, os bem-ti-vis, jaguatiricas e tizius.

Quando uma torcida escolhe para o seu time uma imagem simbólica - o mascote - alheia a sua identidade cultural, já demonstra algum desarranjo… não sei qual. Mas, agora, começa a ficar mais claro. Tornou-se Sport Club Bahia of the Manchester City Group. Justifica o Superman.

Vende-se o grito da torcida, a força da massa? O patrimônio imaterial de um povo tem preço? Compraram uma ideia, um símbolo de uma cultura, a isso poderia chamar de apropriação cultural. Por mais alguns milhões certamente irão trocar o Superman pela Águia, e aí tudo bem. Bahea my fuck. Com o câmbio de 1 pra 6,25, não compraria somente um, mas seis mundos.

(By Rosalvo Abreu, published in Barrocas News)

Rosalvo Abreu
Enviado por Rosalvo Abreu em 25/01/2024
Código do texto: T7984715
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