Como dança, com mudança
Fazia tempo que não vestia aquele jeans e ontem achou um poema antigo guardado no bolso da frente, todo amassado. Quanta coisa mudou desde que escreveu aqueles versos…
Mudança é dança em volta dela. O bailado trata de colocar as coisas de volta em seus lugares, mas com outros tons, outros rumos. Dirime os rancores, dispersa os maus humores…
…uma vontade de catar os pedacinhos de si que se quebraram por aí e, como dança na mudança, se reorganizar, mas de outro jeito, consertando o que gostaria de não ser…
Com os malfadados amores, faria um coração colorido e diverso. Bem cerzido com remendos bem colocados, costurado com bordados de veias e artérias.
Com os lugares onde viveu, faria os pés. Leves para esquecer os descaminhos e calçados, para proteger as feridas e calos com que a caminhada a presenteou. As pernas de chita, para florir os caminhos.
Com os sonhos irrealizados, faria a cabeça, bordando cuidadosamente com os próprios cabelos boca, olhos, nariz e ouvido, sem deixar de colocar antes o cérebro que voa livre novos sonhos.
Os braços, faria de tricô ou crochê, tecendo ponto a ponto cada bom abraço que quer dar e ainda não aconteceu. Fortes, para aguentar os trancos da vida.
Com o restante do organismo, brincaria de patchwork e faria cada órgão forte o suficiente para aguentar novas danças com mudança.