INEDITISMO TORTUOSO

INEDITISMO TORTUOSO

"...este é um momento propício para

publicar e conhecer novos autores."

DOUGLAS DE OLIVEIRA ("publisher"

da Editora "FOLHEANDO", de Belém.

Na Belém dos 1800 e pouco as famílias nobres locais "se abalavam" em determinada época do ano para as muito distantes praias (ainda o são) de Salinas, Ajuruteua e semelhantes, com um só objetivo: catar ovos de "tracajás" (tartarugas de porte médio), devorados ali mesmo "com a ajuda" de sal e limão, suponho. Era um fim de semana de guerra total, pois quem chegava primeiro "fazia um cercadinho" no areal e o defendia "com unhas e dentes", além de bengala e guarda-sol, que toda dama trazia. Não estou inventando nada, isso consta de livro de crônicas antigo, não lembro mais o autor.

Essa "seleção anual" (?!) promovida pela Editora FOLHEANDO vai por aí, quase "repete" o costume ancestral de "aguardar o inesperado", de torcer para que o tal "cercadinho literário" tenha sido feito no lugar correto. Isto é um "comodismo" estranho... as demais editoras Mundo a fora recebem originais por 10 ou 11 meses -- a maioria "sentada" sobre a exigência de "obras INÉDITAS" -- num Tempo global de realidade vertiginosa, com o interesse dos leitores mudando a cada semestre, a cada mês, diria eu. Quem ainda lembra do sucesso de crepusculares obras com vampiros ou com os robozinhos chineses da série "de ficção pouco científica" Minecraft ?!

Porém a Editora citada acima se gaba de ter produzido "mais de 100 títulos, só no Pará..." me pergunto quantos desses 95 ou 98 autores se transformaram em SUCESSO real depois da edição de seus escritos. É um dispêndio de papel e de esforço quase "a fundo perdido", creio que com os mesmos candidatos se apresentando, ano após ano. Sempre fui CONTRA a exigência de INEDITISMO, pelo simples fato de que, num país QUE NÃO LÊ, todo escritor finda por ser de alguma forma... INÉDITO ! Pelas estatísticas, apenas 2 em cada 10 brasileiros leu 1 livro em 2023 (Bíblia, certamente) e nem se fala em tê-lo COMPRADO. Uma obra qualquer não sai hoje por menos de 35 reais e, em lojas virtuais, via PCs, custará uns 20 reais. Gasta-se 3 vezes isso num fim-de-semana... COM LATINHAS de cerveja ou mesmo de refrigerantes. Nos Jornais se lê apenas as páginas sobre esporte ou crimes, talvez algo sobre Lula ou o "monstro" que o precedeu e o "substituirá", se permitirem isso. Cadernos culturais, crônicas, textos sobre Teatro, pintura, música ou LIVROS "passam batidos", vão pro lixo (ou "lixões") "virgens", SEM LEITOR ALGUM.

Meus 6 ou 8 ebooks têm, no conjunto, 58 leituras em 3 anos postados... isso dá em média 3 LEITURAS por ano/obra ! Mais "INÉDITO" do que isso só quem guarda seus originais por 6 ou 8 MESES apenas para apresentá-los uma vez ao ano em projetos como o do SESC-Literatura, o do RUMOS-Itaú ou este, da editora "Folheando"... e sem nenhuma garantia de ser SELECIONADO.

"Quem escreve, o faz para SER LIDO", resumiu Afonso Romano de Sant'Anna, (*1) em entrevista nos anos 1990. Fazem 20 ANOS ou mais que critico a exigência de INEDITISMO em concursos literários de qualquer tipo. Se entendem que um ou outro jurado irá "se deixar levar" pelo NOME do autor do conto ou poema -- e não pela qualidade do texto -- então procurem quem seja IDÔNEO.

"Existe uma quantidade interessante de novos escritores surgindo", afirma o responsável pela seleção deles na Editora FOLHEANDO... se der azar, nenhum ESCRITOR INTERESSANTE estará entre os que guardam originais somente para tais projetos. Diria eu, correndo o risco de rejeição perpétua, de "cancelamento", que a Editora necessita de concurso para "capista" (designer gráfico) pois o que vejo ali na foto de divulgação ainda está "patinando" nos anos 1950... livro (para jovens, pelo menos) SE VENDE a partir da capa, mais do que pelo conteúdo, já que se trata(ria) no caso dela de AUTOR INÉDITO, portanto ainda desconhecido.

"NATO" AZEVEDO (em 24/jan. 2023, 5hs)

OBS: (*1) - "Quem escreve o faz para não morrer; quem lê, lê para imaginar que vive"!, seria esta a declaração real, se não me falha a falha memória senil.