Nas Pegadas da Memória Budegueira
Caminhando pelas ruas, sinto um arrepio ao passar por uma bodega. Me belisco para ter a certeza de que estou acordado, pois as recordações desses lugares são tão vivas em minha mente que chego a duvidar se o tempo realmente passou. Parece que o presente real é, na verdade, um sonho, desses futuristas que as mentes alvoroçadas costumam conceber.
Na vila onde eu morava, duas bodegas se destacavam, e esquecê-las é tarefa difícil, pois minha presença era uma constância nesses recintos comerciais.
Recordo-me do "papel de bodega", cortado de qualquer jeito, repousando sobre o balcão com um peso para evitar voos inoportunos. Muita manteiga no retalho foi adquirida, enrolada em um papel sem nome, que, de tanto abrigar a manteiga, ganhou o apelido carinhoso de "papel manteiga".
Da minha casa, o aroma do café permeava o ar, enquanto o "budegueiro" o moía em uma máquina barulhenta. Era certeza ouvir um chamado: "_ Corre, menino, vai comprar 250g de café... Ah! Sim, traga também meio pão, não... traga um inteiro." Lá ia eu! E era inevitável não ficar de olho na bomboniere repleta de tentações: pirulito Zorro, azedim, bombom Mel de abelha e Pipper.
Às vezes, sobrava uma merequinha, e eu já vinha me deliciando com uma dessas guloseimas dos deuses. Se quebrasse o cabresto da chinela, na bodega tinha. Se precisasse de papel de arraia, também tinha. Querosene, broa, chá de todos os tipos, lamparina, Grapette, guaraná Champanhe, pano de coar café, cabo de enxada, balde de lata de querosene... Enfim, não faltava absolutamente nada.
Mesmo sendo do futuro, jamais esquecerei os lugares por onde passei, carregando todas as suas lembranças. Tanto o que fiz de bom quanto de ruim me trouxeram até aqui, e aprendi muito com todas essas experiências.
Segue a vida!!! Este relato também encontrará seu lugar nas páginas do meu livro de memórias, pois cada detalhe dessas bodegas faz parte de quem sou.
Parça: CG