ÓCULOS, ARMAÇÕES E LENTES

Minha relação com óculos felizmente ganhou ares de cumplicidade apenas a partir dos quarenta anos. Nunca precisei sequer de sua versão escura, pois sempre tive uma boa relação de convivência com a claridade.

Quando adolescente, lembro um dia que em companhia de um colega de rua, fomos fazer um exame gratuito numa promoção de um posto de gasolina do bairro. Meu exame não apontou problemas. Em compensação, meu colega veio com recomendação de necessidade urgente do uso de grau. Mais tarde, ele relatou não saber que os objetos eram nítidos na realidade, pois tudo que via a alguma distância, estava sempre embaçado. Seu maior deslumbramento foi com o céu, o que antes eram apenas pontos difusos de luz, agora resplandeciam com contornos bem definidos.

Óculos escuros sempre me atrapalhavam a visão, ora tirando brilho natural das coisas, ora deixando o ambiente escuro demais.

Apenas quando dirigia motocicleta esse objeto tornou-se fundamental, pois a associação direta entre vento, velocidade e partículas em suspensão castigava olhos, aumentando o risco de cravar algum objeto na córnea.

A partir dos quarenta anos, ainda fazia uso de óculos quase que exclusivamente no trabalho, pois o monitor não dispunha de recursos que facilitassem a leitura, muito pelo contrário, o fundo preto do monitor com dígitos âmbar ou verde fluorescente prejudicava a sensibilidade da vista. A falta de experiência no uso e um nariz quebrado dificultavam, e como, o encontro dos óculos ideal.

Se num primeiro momento a vista cansada impingia o uso dos óculos /colar, exclusivamente para leitura. Com a evolução do cansaço da vista, restavam apenas duas opções de lentes, a popular fundo de garrafa a preços populares, mas que pesava muito, deixando sulcos avermelhados no nariz, ou a levíssima lente de resina, com tecnologia e cotação dolarizada.

Para atender ao apelo estético, e claro, e também dispor de mais conforto, outro elemento foi gourmetizado, as armações que incorporaram boa parte das famosas grifes de vestuário.

Não tem jeito, você acaba se transformando num nostálgico daqueles óculos oferecidos a preço de banana por camelôs, ou com algum aditivo nas melhores drogarias do mercado.

O tempo passa, e seus problemas ópticos evoluem, agora além de cansada, sua vista ficou com problema de cambagem, não encontrando mais ajuste para distâncias maiores. Num primeiro momento você incorpora um segundo par de óculos. Agora não dá mais para pendurar dois óculos como colar. Um acaba brigando por espaço no bolso ou com outros apetrechos na bolsa.

Depois de algum tempo, substituindo seu dueto de apoio visual, você se dá conta que existe tecnologia que trabalha com até três lentes simultaneamente, a tal do multifocal. Para quem tem todos os graus baixinhos, beleza, ainda dá para usar uma lente mais baratinha. Por outro lado, quem já convive com graus elevados, não tem saída, agora vai sentir um frio na barriga quando for fazer o primeiro orçamento.

Sua vista sentiu o passar dos anos, encontra-se agora extenuada e muito preguiçosa, esses predicados infelizmente vão pesar no seu bolso, ah isso vai custar caro, muito caro e nem adianta pensar nas óticas do povo, morô.

Os fabricantes dessas joias de adornar rostos têm um acerto de preços, que se enquadra perfeitamente naquele dito popular “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

E agora vem a parte mais importante, a tal da adaptação da sua cabeça e esses pequenos detalhes de alteração de foco. Lembro que subir ou descer escada era um fardo, pois os degraus ficavam saindo do lugar, primeiro passo para o tombo. Muita gente não consegue superar essa dificuldade, e continua convivendo com as constantes trocas de lente.

Conheço muita gente que investiu pesado nessa modalidade de equipamento e não conseguiu se adaptar. Essa premissa vale também para aqueles que desistiram da armação e tentaram implantar lentes diretamente nos olhos. Aqui também são muitos os problemas, pois esta prótese exige manutenção, e claro graves problemas para os esquecidinhos.

Para os mais corajosos, estão agora disponíveis cirurgias que praticamente zeram o grau, mesmo para aqueles que sempre dependeram das lentes para uma levar uma vida normal.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 23/01/2024
Código do texto: T7983023
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.