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Há uns bons anos atrás eu estava em estado de pânico pensando nas milhões de cigarras que iriam emergir da terra e invadir os EUA. E foi um verdadeiro pesadelo! Era só sair de casa que elas voavam na roupa, no cabelo. Foi um verão que praticamente nem saí de casa e nem curti o sol. Havia centenas boiando nas águas da piscina.

Lembro que à tarde, no período de acasalamento, o barulho era estridente, irritante e constante. E essas cigarras daqui são diferentes. Elas parecem “quase uma pessoa”… olhos vermelhos, fixos em você… corpudas, barulhentas e invasivas.

Um dia, indo para o trabalho, quando fechei a porta de casa e me dirigi para meu carro, elas voaram e cobriram minha blusa e meu cabelo -  eu gritei tanto que meu vizinho saiu na porta achando que eu estava sendo atacada por alguém.

 

Ontem, li que no mes de Maio, duas ninhadas diferentes de cigarras – uma que vive num ciclo de 13 anos e outra que vive num ciclo de 17 anos – vão emergir ao mesmo tempo; dizem ser um evento raro que aconteceu pela última vez no governo de Thomas Jefferson, em 1803!

Só que notei dessa vez, que essa notícia não me causou tanto espanto, e acho que devo isso ao Covid, pois, em rápida análise, percebi que o pânico desta doença e de tudo que ela causou - com os efeitos  em nosso comportamento até nos dias de hoje - foi mil vezes maior do que o das cigarras.
Percebo que a importância das coisas vai mudando de lugar na vida da gente… como uma escada. Em vez de subirmos afoitos, às vezes até sem pensar muito, sem fôlego, começamos a descer de uma forma mais equilibrada e tentando ser mais calmos - percebemos que não adianta fazer muito carnaval. O máximo que pode acontecer é reduzir meu tempo fora de casa. Isso, no passado, eu interpretava como um "Grande Problema", mas, hoje, depois da pandemia, tornou-se quase uma rotina.

 

Acredito que com o passar do tempo a nossa personalidade também muda e nos tornamos menos ansiosos e com menos expectativas. E isso pode nos ajudar a lidar melhor com as mudanças e desafios da vida. Acumulamos mais experiências e conhecimentos, o que nos dao uma visão mais ampla do mundo. Além do que, com o tempo, aprendemos que com nossos erros e acertos desenvolvemos estratégias para enfrentar as mudanças da vida com mais confiança e nossas prioridades também mudam. Então, um dia você olha para a vida que passou rapidamente e pensa: "quanta importância eu dei às coisas que não tinham a mínima importância!" O importante mesmo é ser capaz de aproveitar cada fase dessa trajetória e se adaptar, e, de certa forma, se transformar. 

 

Eu confesso que eu ainda tenho um pouco de medo das cigarras. Eu não gosto do barulho, do voo, do olhar delas. Eu não gosto da ideia de ter que dividir o meu espaço , mas eu também reconheço que elas têm o seu valor, o seu papel, a sua beleza. Elas são parte da natureza, assim como eu.

E elas me lembram que a vida é um ciclo, que tudo tem o seu tempo, o seu propósito, o seu fim. E que eu tenho que aproveitar cada momento, cada fase, cada lição de vida.

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 23/01/2024
Reeditado em 23/01/2024
Código do texto: T7982790
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