A novena para a padroeira

 

Amanhã inicia a novena para a padroeira de Charqueadas, Santa Bárbara! Certo? Errado, a padroeira de Charqueadas é Nossa Senhora dos Navegantes, mas tem até católico que vai na missa que se confunde com isso - sei porque já perguntei para alguns e eles não sabiam dizer qual era qual. E o motivo para a confusão não é banal.

 

O que acontece é que a devoção à Nossa Senhora dos Navegantes é de 1800 e começo do mundo, quando Charqueadas era o Porto das Minas (1882 - 1957, conforme o historiador charqueadense Saldino Pires). Isso só não é mais antigo do que o período do charque, mas, assim como tu não encontra mais charqueadores e charque em Charqueadas, também não há mais uma categoria marítima de peso. Assim, os mineiros, assalariados do ciclo mais recente e do qual ainda temos muitos trabalhadores aposentados vivos e atuantes na comunidade - inclusive na Câmara de Vereadores, com o edil Esporinha -, fazem de Santa Bárbara uma devoção muito presente (possui imponente estátua no Parcão da cidade) e defendida à picaretas, pois deu um brigueiro danado quando quiseram mudar o feriado municipal de 4 de dezembro tempos atrás, fazendo os mineiros se mobilizarem da mesma forma que faziam nas greves de quando estavam na ativa.

 

Entretanto, a novena que inicia amanhã é para Nossa Senhora dos Navegantes, que nomeia a Paróquia de Charqueadas. Aliás, a Igreja Matriz de Navegantes (concluída em outubro de 1945 e abençoada em fevereiro de 1946) é uma beleza, com seus belos vitrais de 1946, recentemente reformados devido a ação predatória de vândalos que, acreditem, jogavam pedras nos mesmos. Todavia, tem mais Deus e seus fiéis para dar do que o diabo e seus acólitos malignos para apedrejar, e assim a comunidade se reuniu e bancou o conserto. Se você mora na região Carbonífera e não conhece esses vitrais (ler, a respeito, Os vitrais da Navegantes), está marcando bobeira. Vá na Igreja Matriz (foto abaixo), principalmente já para o final da tarde, para ver o sol se pôr atrás do templo, e veja os vitrais de Santa Cecília (lindo, meu preferido), Terezinha, Bárbara, João Batista, etc. Aproveite para fazer agora, durante a novena, vale a pena, recomendo. Inclusive, tem lá a bela galera com Nossa Senhora dentro (foto abaixo), réplica da original de 1948 - que ainda existe, já escrevi aqui sobre isso (As galeras da santa) - e que é usada na procissão do dia 2 de fevereiro que, desde 1974, passou a ser por terra, devido a um acidente no rio Jacuí onde perecerem muitas pessoas, dentre elas mulheres e crianças, durante a Festa de Navegantes - que acontece desde 1946 - daquele ano.

 

Voltando à novena, hoje, dentro da programação festiva, acontece a procissão motorizada que abre a 78ª Festa de Nossa Senhora dos Navegantes (imagem acima), com saída às 19 horas da Igreja Matriz, onde ocorrerão todas as missas da novena, de amanhã até 1º de fevereiro, sempre às 19h30min. No dia 2, a missa festiva acontece às 9 horas e será ministrada pelo pároco local, padre Miguel Faleiro (ele faz aniversário em 26 de outubro, não em janeiro, minha gente), que, aliás, profere as melhores homilias que já assisti na vida, superando até mesmo às do padre Vilmo lá da Colônia, nos anos 1970, na igreja Nossa Senhora de Fátima (1959). Os demais padres que conduzirão a novena são: Adilson Corrêa (amanhã), Charles Kermaunar (dia 25, quinta-feira), Fabiano Pauli (26), Dom Odair Miguel (27), Geneu Machado (28), Rodrigo Rubi (29), Roque Machado (30), Jeferson Lunkes (31) e Milton Krindges (1º), sendo que alguns destes foram diáconos e padres na cidade. Mais informações pelo Face da Paróquia Nossa senhora dos Navegantes.

 

Então não esqueçam mais: a padroeira de Charqueadas é Nossa Senhora dos Navegantes, não Santa Bárbara. Particularmente, aprecio as duas devoções, eis que se referem a categorias profissionais de trabalhadores assalariados que muito fizeram pelo desenvolvimento econômico de Charqueadas por meio do suor de seus labores e da coragem e denodo de seus movimentos classistas e greves que a História registra (salve, Saldino Pires). São José, pai adotivo de Jesus, carpinteiro e padroeiro dos operários, não me deixa esquecer disso, quando olho seu vitral (foto abaixo) na Igreja Matriz.