A mãe que não deixou um like

Outro dia, ao assistir a um vídeo de um psicólogo, não me contive e ri alto. Depois cliquei no polegar invertido. Ele dizia que as crianças passavam muito tempo em seus quartos, em redes sociais ou jogando jogos violentos, e que os pais deveriam passar mais “tempo de qualidade” com eles. Disse que era tarefa dos pais proteger os filhos e zelar pelas famílias.

A princípio até concordei com ele, e fiquei me considerando responsável pela falência da minha família. Porém, pensando melhor, como ele poderia jogar apenas no colo dos pais tamanha responsabilidade? Pais que chegam em casa à noite para preparar o jantar, lavar a roupa e dar outras providências para, no dia seguinte, recomeçar mais 8h de trabalho para manter a família com um pouco de dignidade.

Como competir com jogos super-realistas, conteúdos atrativos e filtros ineficientes? Como competir com influenciadores orientados por CEOs e com um a equipe de profissionais que produzem conteúdos visando cada vez mais curtidas, likes e compartilhamentos?

Será que os donos das redes têm interesse em filtrar alguma coisa? Ou querem que você consuma cada vez mais conteúdos e propagandas inúteis?

Um YouTuber brasileiro famoso, em certo vídeo soltou esta pérola: “ não tenho a obrigação de educar ninguém”. Mas isso significa que tem o direito de deseducar?

Qual a responsabilidade dos governos em relação à regulamentação das redes? Qual a obrigação dos donos das redes em relação à disseminação do lixo produzido pelos influenciadores e às fakenews ? Qual a responsabilidade dos criadores de jogos e conteúdos enquanto influenciadores de mentes em desenvolvimento? Isso sem falar na “deepweb”, um covil de lunáticos, pervertidos e criminosos de toda espécie, onde só quem não entra é a polícia.

Se ninguém assume suas responsabilidades, como os pais poderão ser responsabilizados sozinhos e competir apenas com diálogo e um jogo de tabuleiro?

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