SOBRE AMOR

Não era fácil a vida da mulata Maria Clara. Dois filhos criados pela mãe e ela no auge dos seus trinta anos , precisando de sete faxinas por semana para sustentar a todos, porque os pais de seus filhos andavam, se vivos, perdidos pelo mundo.

Com essa vida árdua onde as dificuldades eram constantes, pouco tempo sobrava para a jovem divertir-se ou preocupar- se com a vaidade.

Nem o sofrimento e as decepções com os homens, principalmente com os pais de seus filhos, tiraram o brilho dos olhos verdes da mulata brejeira. Brilho esse que a todos encantava e que despertou o amor do pedreiro Everaldo,

homem humilde, com um coração maior que os prédios que ajudava a construir.

Maria Clara encantou-se por ele, cuja bondade despertou nela sentimentos novos.

Encontravam-se na rua e nas esquinas do lugarejo. Mas o amor foi surgindo e exigiu uma aproximação maior.

Para ficar mais tempo com a amada em seus braços, o operário teve a ideia de convida-la para acamparem próximo ao rio Itati, onde ele costumava ir pescar.

Assariam o resultado da pescaria e juntos passariam um noite de amor. A primeira.

Era grande a felicidade de Maria Clara quando embarcou no coletivo, rumo ao encontro com Everaldo. Levava apenas uma pequena colcha para se cobrirem. Everaldo encerrou mais cedo seu trabalho na obra e amarrou junto a velha bicicleta, tudo o que precisariam para um encontro tão especial.

Maria clara desceu do ônibus e pegou um pequeno atalho costeando o rio. Logo avistou uma fumaça. Ela sabia que era seu amado lhe esperando.

Everaldo já as margens do rio, erguia para o céu o anzol com uma linda traíra suspensa.

E ali, bem as margens do rio, rodeado pelo matagal, longe dos olhares curiosos, teriam então alimento para sua fome e onde seriam saciados seus desejos.

Um velho cobertor serviria de lona, testemunha real daquele momento tão íntimo do casal.

Nos braços cansados do operário , através dos galhos das árvores e no improvisado e furado toldo, Maria Clara olha as estrelas e tem certeza de já estar no céu.