No tempo em que o amor era um sentimento valorizado, não importava se estávamos bem ou sofrendo, as músicas eram absolutamente necessárias em nossas vidas. Se a gente estava sofrendo, o que era comum, a importância dobrava. Afinal, quem nunca sofreu por amor? Sofrer por amor é como o pecado, ninguém passa nessa vida sem experimentar.
Sou da geração dos bailinhos, onde as meninas esperavam os meninos as tirarem para dançar agarradinhos. Olhares ternos, o calor do corpo, beijos roubados, sorrisos tímidos e um copo de cuba libre, para os cavalheiros, claro, as mulheres refrigerante ou no máximo um copo de vinho. Uma combinação perfeita. Depois os homens se juntavam para contar vantagem - com todo o respeito - e as mulheres fofocavam no banheiro retocando a maquiagem ou no quarto quando uma amiga dormia na casa da outra.
Nessa época as músicas românticas davam o tom do romantismo e do sofrimento também. Os cantores brasileiros como Fábio Jr. e Jessé, por exemplo, cantavam em inglês. As trilhas sonoras das novelas da globo eram o coqueluche e ter o lp em casa era mais um motivo para emprestar à moça ou ao rapaz gravar em fitas cassetes e depois um ótimo motivo para um encontro para devolver. Mas no quesito amor Roberto Carlos era imbatível. Ninguém entende o amor como ele. "Esse amor sem preconceito, sem saber o que é direito, faz as suas próprias leis" - até nos amantes ele pensou. Quando fui a terceira pessoa, ou seja, o amante em uma relação, me consolava ouvindo amada amante, tomando minha cuba libre. Ah, meu querido Roberto, será que você tem noção do tamanho da sua importância para os apaixonados? É infinita.
A primeira vez que sofri por um cara, morava em New York, e como não podia me abrir com ninguém - outros tempos - fui a um piano bar, onde o pianista tocava bossa nova e era meu amigo. Peguei uma taça de vinho e fiquei ouvindo ele tocar chorando. De repente, meu ex entrou. Fiquei pálido e a minha primeira reação foi correr para o banheiro. Lavei o rosto para disfarçar e olhando para o espelho jurei de pé junto que sequer olharia para ele, arranjaria outro cara e obviamente o beijaria na frente dele. Hoje eu me vingo, pensei. Mas a madrugada tinha outros planos e no final ele saiu com outro, eu fiquei ouvindo meu amigo tocar coração vagabundo e em casa desmaiei bêbado.
Hoje olho para trás e vejo como foi muito bom ser jovem nos anos 80. Tempo de paixões intensas, profundas e arrebatadoras. Tempo em que espalhávamos pétalas de rosas na cama do motel - levar namorada(o) em casa nem pensar - abria-se os botões das roupas devagar, com beijos, tudo no clima saboroso do pecado da luxúria, que agradava dos mais pobres aos mais ricos sem nenhuma distinção.
Agora eu pergunto: Dá para viver um clima de paixão ou romantismo ouvindo Anitta, Pablo Vittar ou Luiza Sonza? Não tem a mínima condição né.