CEROL & FLECHA
Toda criança, quando começa a soltar pipa, não costuma ‘dar muita linha’ para não ter a infelicidade de aparecer uma outra e cortá-la ‘na mão’, quer dizer, além de perder a pipa, também se perde muita linha.
Pipa a gente pode correr atrás e pegar, remendar, colocar uma rabiola colorida; linha tem que ser nova, no carretel, não pode estar puída, porque é ela quem vai estar no front na hora da luta.
A experiência de anos soltando pipa mostra que, na verdade, não é só a linha que combate, um cabresto bem feito na pipa faz com que o vento seja um aliado e faça com que o peso da pipa libere maior vigor à linha.
Uma pipa alinhada sobe verticalmente com uma velocidade surpreendente, basta puxar a linha mão ante mão, que dá para sentir a fúria de uma locomotiva nos trilhos.
Articulando movimentos corretos com os braços, tenteia-se para um lado e para o outro com elegância, até que os movimentos atinjam a largada de um cavaleiro medieval partindo para cima do inimigo.
Agora que a estratégia do jogo foi exposta, é preciso contar que no quintal ao lado de onde você solta a sua pipa, infiltrados preparam ‘marimbas’ de pedras em linhas com cerol.
Também é preciso contar que os cavaleiros, montados em cavalos imponentes e vestidos por reluzentes indumentárias, são vulneráveis às flechas dos arqueiros, um grupo do baixo clero dos exércitos.
Diante disso, é melhor arriscar deixar a pipa voar para mais longe quando se for começar algo novo. Assim, logo de cara, perde-se o medo, renova-se os ares, além de adquirir mais resistência ao cerol e às flechas.