Os sindicatos
O Boris, amigo de longa data, fundou um sindicato. Justo o Boris, que sempre os criticou.
A ideia do Boris era: nenhum dever a menos. Por mais deveres. Louça na pia: quem viu, lava. Velhinha atravessando a rua, quem viu, ajuda. Pessoas tristes, quem presenciou, consola.
O Boris juntou ali umas 500 pessoas. Número bom. Logo quiseram subverter: cobrar para cumprir os deveres.
Mas o Boris era irredutível: dever não se cobra, em nenhum aspecto, com o perdão da ambiguidade, cumpre-se.
Então, os dissidentes, insatisfeitos com o autoritarismo do Boris, fundaram outro sindicato: Deveres demais. Era preciso regular os deveres. Quem viu a louça, não lava. Quem viu a velhinha atravessando a rua, não ajuda, pede ao Estado. Quem viu alguém chorando, manda ao CAPS.
Mas esse sindicato do "deveres demais" também teve suas encrencas.
Havia aqueles que pensavam ser demais ter deveres demais, então, fundaram o “Deveres de menos”.
O "deveres de menos" baseava-se na seguinte estratégia: deveres de menos. Não há louça. Não há velhinha. Não há gente chorando. Mas, depois de uns chopes em algum boteco, alguém decidiu que o “deveres de menos” ainda tinha alguns deveres, logo, fundaram o “Deveres jamais”.
O “deveres jamais” baseava-se na seguinte estratégia: Há louça, portanto, há produção e há imposto, que venha pra nós. Há velhinha, então, há o que cobrar da velhinha. Há gente chorando, logo, há remédio e se há remédio, há imposto.
Bom... não preciso falar que houve dissidências no “Deveres jamais”... então...