Céu Azul
O céu amanheceu azul.
O Sol forte fazia as pessoas procurarem locais ao ar livre para se encontrarem, mas não eu.
Eu sempre preferi essa humilde cafeteria que abriu aqui perto de casa.
Venho aqui todo dia para desenhar num guardanapo e pensar.
Pensar…
Pensar nela.
É sempre ela quem me atende.
Pergunta-me a mesma coisa:
— O que vai beber hoje?
Ela já sabe, mas pergunta assim mesmo, e sorri.
— Café amargo, por favor. E duas torradas doces.
É meu ritual vê-la sorrindo, seja falso ou não, me alegra o dia.
Meu céu fica azul.
Eu respiro com dificuldade quando ela sai.
Quero dizer algo.
Uma pergunta que está presa em mim há muito tempo.
Uma dúvida, ou uma certeza talvez.
Mas devo perguntar.
— Volte! Esqueci uma coisa…
Os rostos me observam nesse momento.
Parecem cansados.
Ela parece não me querer ali.
Eu só quero conversar.
Será que vai rir de mim?
Vai me achar estranho?
Tenho que dizer algo agora, não posso mais evitar.
Estraguei tudo?
O azul do céu não é pra mim…
—Torradas salgadas.
Decido de última hora.
Uma escolha simples para ela, mas covarde para mim.
Ela saca a caneta e corrige meu pedido.
Não tem garotas pra mim aqui.
Só propagandas nas paredes, copos de papel e café aguado.
Minha bebida esfriou com o tempo.
Parada.
Move-se em ondas com a brisa.
É nessa hora que percebo.
Estou nesse mundo enorme, sem ela, ninguém.
Alcançar o azul do céu exige muita dor.
Eu posso?
Venho vivendo os dias, pedindo forças emprestadas, mas agora estou esgotado.
Preciso parar de seguir a brisa e tomar meu rumo.
Sou mais velho do que aparento.
Mais velho que minhas lágrimas.
E jovem demais para me atirar em meus piores medos.
Estou esgotado, mas ainda tenho forças para me mover.
Vou embora, mas não sem antes deixar o desenho dela e o pagamento na mesa.
Assinei meu nome e telefone no guardanapo.
O céu azul vem e vai.
Um dia virá por mim?
O céu azul vem e vai.
Eu também.