BASTA DE BOSTA!
BASTA DE BOSTA!
Nelson Marzullo Tangerini
Quero meditar sobre o que diz Marcia Tiburi em carta a Jean Wyllys (livro “O que não se pode dizer – Experiências do exílio”, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 2022).
“A indústria cultural destrói a paz dos sentidos e prepara o terreno para o ódio. A música ruim é parte do mal banal que sabe que é importante produzir a regressão da audição diariamente, deixando as pessoas bem sensíveis a ponto de ouvir qualquer coisa e achar que é obrigação gostar do que se ouve, apenas porque está disponível para que se ouça. Terei pesadelos com o que estou escutando agora. Assim que terminar de escrever, sairei correndo daqui para odiar a mim mesma”.
Faz alguns dias, assisti, na Tv Cultura, a uma entrevista com o cantor Sidnei Magal. Os erros de português dos jornalistas (Como “que” foi?, Como “que” fica?) era gritante, mas ouvir Magal falar meias-verdades sobre a MPB não teve preço.
O que a música é hoje? Segundo o cantor, é uma cópia da primeira música lançada anteriormente e que deu certo. Leia-se: pagode, funk, gospel, sertanejo, hip hop, rap, etc. Daí o produtor ganancioso achar que pode lucrar com aquilo. Marshall McLuhan, teórico da Comunicação em meus tempos de faculdade, dizia que “arte é aquilo que se pode empurrar”. Não estamos mais na Renascença, mas a arte, então, teria perdido todo o seu significado original?
E mais: o que dizer da vizinhança que impõe no mais alto volume a sua música de péssima qualidade, com palavrões e letras machistas, quando quero ficar em paz, ler um livro ou assistir a um documentário na tv?
Voltando para Marcia Tiburi, os senhores da mídia – capitalista - pensam que temos de ouvir o que eles nos impõem, sem que possamos questionar o que nos tentam empurrar goela abaixo.
Até o educadíssimo Milton Nascimento andou soltando as suas farpas.
Não estou quebrando discos como fazia o apresentador Flávio Cavalcanti, que cometeu inúmeros erros. Não sou apresentador, não sou crítico. Sou apenas um consumidor atento, que não vai embarcar na mediocridade. E, partindo desta premissa, vou, simplesmente, ouvir a Rádio JB FM, ouvir meus antigos CDS de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Ivan Lins, Ney Matogrosso, Milton, Gil, Caetano, Gal, Bethânia, Elis, Rita Lee, Tom, Francis Hime, Doris Monteiro, Edu Lobo, Carlinhos Lyra, Toquinho & Vinícius, Luiz Melodia, Martinho da Vila, Raul Seixas, entre outros. Porque gosto de ouvir cantores e músicos – que estudam, se aperfeiçoam e tocam seus instrumentos: baixo, guitarras, piano, bateria e percussão.
Sou da “antiga” e não consigo digerir essas músicas feitas às pressas por determinados produtores e artistas que se abarrotam de dinheiro e, depois, exibem suas riquezas e suas joias em jornais, revistas e internet.
Na verdade, muita gente se enriqueceu com músicas medíocres – muitas feitas sem músicos, com computador e sem preocupação alguma com a língua, a poética e um trabalho bem elaborado.
Enfim, não quero ouvir músicas repetitivas, sem criatividade alguma. Sou um cérebro pensante e o capitalismo não pode fazer de mim um ser disponível para consumir o pior que existe na música, por exemplo.
Há músicas para balançar a bunda e músicas para alimentar a alma. Fico com as segundas, porque, a meu ver, música é a arte de combinar os sons. Música é mágica. É essa alquimia que mistura voz, vozes e instrumentos musicais.
TEXTO REESCRITO.