Dando adeus a 2007

          Fechei o ano, rasgando papeis.
          São velhas contas de água e luz; contas velhas de telefones fixo e móvel; extratos bancários dos últimos trinta dias, e receitas médicas ultrapassadas.

          Também rasguei cartas, bilhetes e e-mails de amigos e amigas distantes, recebidos em 2007.
         Guardei, apenas, as correspondências que me tocaram o coração. Morrerei com elas.

          Depois de rasgar o que devia ser rasgado, comecei a despedir-me de 2007. Que, a rigor, não foi para este privilegiado escriba um ano tão ruim.

          Disse alguém, que "o mundo é pouco para os insaciáveis". Não estou entre eles. Contento-me com o pouco que Deus vem me concedendo ao longo de várias décadas de trepidante e vitoriosa existência...

          Não sou de pedir muita coisa na passagem do ano.
          Não vou às praias lançar flores ao mar e fazer pedidos a Iemanjá. 
          Não me interessa saber o que dizem os búzios e os astros sobre o meu amanhã.
           Não vou às cartomantes perguntar-lhes o que receberei de bom ou ruim no novo ano.
           Não vou à minha igreja exigir dos meus santos isso ou aquilo no ano novo . Deixo-os à vontade. Eles sabem do que preciso e do que mereço.

          Se alguma coisa tivesse de lhes pedir, seria que não deixassem meus leitores abandonarem o meu modesto site
          E que ao lerem minha pobre prosa, perdoassem as asneiras que ando a escrever.

          No ocaso dos anos, sou mais de agradecer. 
          Hoje, 31 de dezembro, beneficiado pelo silêncio monacal do meu gabinete de trabalho, agradeci tanta coisa! Por exemplo: pelo que fui e pelo que recebi, em 2007.

          Nada de lamúrias; e nem de rememorar as decepções e desilusões pelas quais transitei no ano que esta se despedindo... É impossível varar 365 dias sem ter de enfrentar dissabores, contratempos, borrascas, desencontros. 
          Atravessei as turbulências com destemor e dignidade. Contornar intempéries é prova de sabedoria e de amadurecimento. 

          Mas quando me preparava para encerrar esta crônica de adeus a 2007, li num jornal de Salvador o seguinte: "Desilusões dos anos vão para o lixo". 
          O despacho, veiculado pela Agência France Press,  dizia que dezenas de pessoas desiludidas com o ano que acaba, jogaram em uma trituradora gigante instalada em Times Square, os objetos que lembram, ou melhor, que lembravam os maus momentos por eles vividos em 2007.  
         Entre os objetos jogados na trituradora estavam telefones celulares e fotos de ex-namorados e de ex-namoradas.

          Idéia fulgurante essa. E que pode perfeitamente ser aproveitada por qualquer cidade brasileira. 
          Em síntese, é querer destruir o que nos fez infeliz no ano que se foi; não deixando, sequer, o rastro daquilo que fez a gente sofrer... 
          A pior de todas as lembranças é aquela que nos atormenta, maltrata diariamente, ano após ano. Triturá-las é preciso.

          No mais, é esperar que o Brasil - com tanta gente de olho nos cofres públicos -, não adote o calendário chinês para justificar a desenfreada e desonesta ganância dos seus "espertos" filhotes.
         Para quem ainda são sabe, 2008, de acordo com o calendário da China milenar, é o ano do raaaaaaato...

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 31/12/2007
Reeditado em 12/02/2008
Código do texto: T798069