INSENSATO COMANDO

Na permanência de uma semana na Riviera Maia, topamos um dia com uma oferta que me encheu os olhos. Fazer um passeio de lancha pelas lagoas costeiras com um apelo pra lá de especial, o comando de uma pequena lancha d o tipo voadeira.

Depois de uma rápida explicação do funcionamento do veículo, eu e mais seis curiosos assumimos a direção de cada uma das seis embarcações e partimos para o que mais tarde poderia ser considerada como uma jornada marítima.

A única objeção relatada por nosso guia seria a obrigatoriedade de manter os barcos em fila indiana, sem alteração da posição inicial. Antes de partirmos para aventura, o marinheiro avisou que o banho na outra ligação da lagoa com o mar seria suprimido, pois existia um alerta de ventania ao final da tarde, e que ele não gostaria de fazer-nos passar por uma espécie de batismo de fogo.

O caminho de ida foi uma maravilha, uma leve brisa soprando constante, águas tranquilas, céu azul e lá nas margens era possível acompanhar o emaranhado de galhos castanho em contraste com o verde escuro da folhagem do manguezal, havia inclusive, relato da existência de jacarés de porte, nas margens da lagoa.

A lanchinha dispunha de um motor traseiro potente, mas infelizmente não dava para testar seu limite de velocidade, pois a embarcação do guia ditava o ritmo de viagem. Depois de cruzarmos toda lagoa, foi sugerida uma parada para banho em trecho que o manguezal retrocedia, deixando uma praia deserta a ser desfrutada, tendo como companhia apenas caranguejos mais desinibidos e algumas ostras agarradas ao mangue preto.

Num estalar de dedos a brisa ganhou corpo, o sol até então vibrante ficou embaçado e aquelas águas quase espelhadas se fizeram encapeladas. Nosso guia exigiu presteza na saída, pois a mudança do tempo prevista para o final da tarde se antecipara.

Agora a objetivo seria retornar o mais breve possível ao ponto de partida. Tudo anteriormente relatado perdera a validade, agora para desespero geral, se aplicaria aquela famosa teoria “cada um por si, e Deus por todos”.

Nosso guia, que deveria numa situação dessas passar tranquilidade para o grupo, e claro ficar por último na fila, garantindo assim mais segurança para os possíveis retardatários, saiu na frente, abandonando o grupo à possível imperícia dos marinheiros de primeira viagem.

Uma névoa baixou, reduzindo a visibilidade, o constante subir e descer do barco nas marolas só fazia crescer de tamanho, nossos corpos, roupas e apetrechos para um lanche, já naufragados no chão do barco já indicava problemas mais sérios, e o vento frio tomando conta do corpo reafirmava a gravidade da situação.

Vivenciávamos um pesadelo, que sequer nos permitia ver o fim, ou mesmo as margens da lagoa, minha lancha perdera contato visual com a que ia a frente, e a vinha trás, foi a primeira a sumir do meu campo de visão.

As batidas da embarcação nas ondas ficavam cada vez mais espaçadas, porém cada vez mais fortes, eu ouvia a hélice do motor subir sua rotação a cada voo, a falta de contato com a água fazia o giro do motor disparar, e em seguida reduzir sua rotação, no contato com a resistência propiciada pela água.

Soninha ao meu lado, sem ter um ponto de apoio para se firmar, quicava no banco duro de fibra de vidro e me xingava de tudo que passava por sua cabeça. Não consigo mensurar o tempo desse voo quase cego, pois a chuva torrencial que despencou a partir de dado momento, permitia enxergar apenas poucos metros à frente.

Finalmente, conseguimos chegar ao canal, agora as duas margens estavam próximas, bastava cruzar um trecho reduzido de mar aberto e atracar no píer, onde funcionários da empresa aguardavam ansiosamente nossa chegada. Ufa, que saudade da terra firma, por uns instantes abstraí nosso estado de fadiga, molhados até a alma e ainda batendo queixo ao final dessa aventura náutica no caribe mexicano.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 20/01/2024
Código do texto: T7980688
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