A noite em que os besouros invadiram o meu banheiro
Era uma madrugada quente em que o inverno já se despedia e saudava a chegada do verão. Levantei-me para ir ao banheiro. Costumo fazer isso até de olhos fechados. Mas algo diferente transformou a rotina.
“Crec, croc, smash”… eram sons crocantes e estridentes que subiam aos meus ouvidos brotando debaixo dos meus pés. Abri os olhos mirando o chão. O que vi me fez sentir parte de uma cena de filme do tipo “A revolta dos besouros”. O piso do banheiro estava vestido de um tapete feito de multiformes asas, antenas e pernas de insetos. Sem sair de casa naquela noite, me vi diante do portal dos besouros.
Admirou-me ver como eles sabem viver a diversidade, mesmo no pouco espaço do meu banheiro. Alguns com chifres, ou seriam antenas? Outros pareciam vestidos com pijama de bolinhas, mas não faltavam os vestidos de listras. Não poucos exibiam com glamour suas asas esverdeadas parecendo feitas de celofane. Redondos, geométricos, altos e compridos, estreitos com asas eriçadas, por fim, um verdadeiro caleidoscópio da espécie.
Intrigou-me o pensamento de como fui cair na rota destas centenas de seres exóticos. Afinal, tudo que existe tem um fato gerador. Quem sabe foi da explosão de alguma fábrica de coleópteros. Ou talvez, foi uma micro réplica da praga de insetos da narrativa bíblica ocorrida no Egito. Praga ou não, os besouros obedeceram uma placa de mão única colocada por Deus apontando para meu inocente banheiro. Enfim, sem resposta, deixei o portal dos besouros e voltei para a cama sem pensar na limpeza que teria no dia seguinte.
Porém, os insetos não iriam para o lixo, mas para o estômago de muita gente se eu fosse um empreendedor de combate à fome e da sustentabilidade. Observo nas revistas e jornais artigos que afirmam que segundo a ONU, a comida à base de insetos são considerados de alto valor biológico, baixíssimo impacto ambiental, além de serem nutritivos. De acordo com um estudo da USP, os insetos têm mais nutrientes do que a carne bovina. No Brasil, vários projetos para criar tais alimentos para humanos estão represados nas universidades na espera de legislação e autorização dos órgãos do governo. É um trabalho de formiguinha para nos levar a comer formigas. Quem sabe, não seja uma oportunidade para no próximo verão investir em uma fazenda de insetos?