Re-encontrei o Mario

Este final de semana foi generoso comigo e me deu motivo para escrever a respeito de 2 assuntos que há muito venho “cozinhando em fogo brando”.

O Mário é um grande companheiro com quem trabalhei em Valinhos e que depois partiu para outros caminhos e outros países. Esteve na Colômbia, na Venezuela, mais recentemente morou em Porto Rico e agora, já no México, voltou a trabalhar na mesma empresa que eu.

Isso só reforçou o respeito e a admiração que tenho por ele e , quem sabe, ele também tenha por mim. 

1. “Honestidade explícita”

O primeiro assunto poderia ser chamado também de confiança irrestrita, esse sentimento tão escasso em nosso país e praticamente em qualquer meio que convivamos, pois sempre temos razões para “pé atrás” quanto o assunto envolve nosso semelhante.

Pois bem, eu estava indo na 6ª. feira a noite a um restaurante Português com o Mário e passamos ao lado da feirinha da Praça de Ucrânia. Ele disse que estava há muito tempo com saudade dos pastéis de feira que costumava comprar para levar para sua mãe quando ainda morava em Campinas.

Durante o tempo que passou no exterior, e foram praticamente uns 30 anos, nunca mais teve a oportunidade de comer pasteis tão saborosos como esses das feiras livres do Brasil. Eu sabia bem do que o Mário estava falando, pois eu também já tive vontade de comer essas coisas aparentemente tão comuns mas que em outros países jamais são idênticas às que temos por aqui e o pastel gorduroso e de duvidosa higiene é uma delas.

Comemos 2 cada um (de carne, prá variar) antes de irmos para o restaurante e o Mário parecia um perdido no deserto sorvendo as primeiras gotas depois de dias sem água... Huummm! Mas que delícia! Leo, Você não sabe a alegria que me deu! Essas foram algumas das expressões para saudar uma coisa tão simples como essa.

Ali, naquela banca apinhada de gente, com uns 4 ou 5 atendentes para pelo menos uns 15 clientes, eu me lembrei dessa demonstração de honestidade descontrolada , talvez a última que ainda exista entre pessoas:

Você pede o pastel, pede outro para um segundo atendente, se quiser levar pra casa pode pedir até mesmo para um terceiro e só no final, caso Você tome a iniciativa de perguntar: quanto devo? É que virá aquela resposta natural, mas sem dúvida surpreendente: O que foi mesmo ?

Aí Você e não o moço ou a moça da barraca é que diz quanto comeu , o que comeu e o que vai levar. Ele faz as contas, Você paga e vai embora...

É sempre assim, seja em Campinas ou em Curitiba. Acho que deve ser assim em qualquer lugar do Brasil...

2. “Besta é tu”

Também neste mesmo fim de semana, fui à Fnac e encontrei lá uma promoção imperdível: um DVD da Marisa Monte que de R$67 estava sendo vendido a R$22: o “Barulhinho Bom”. Já tinha o CD(na verdade 2) e não me canso de ouvir.

Pois bem, cheguei em casa e pus o DVD pra rodar. Lá pelas tantas, depois de alguns Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes, Velha Guarda da Portela, aparecem os Novos Baianos (Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo, Pepeu Gomes e agregados...) cantando junto com a Marisa Monte esse samba que quase não passa muito do refrão “Besta é tú” e ainda assim com esse erro de Português, mas que corrigir poderia custar a sonoridade.

Mas o samba não é só isso: ele diz também: “Porque não viver ? Não viver esse mundo? Por que não viver? Se não há outro mundo...”

O Mario me falou do filho que sofreu um acidente e ficou durante 3 meses desacordado, perdeu dois terços do peso, teve uma boa parte do cérebro esfacelada pelo choque e que fez com que ele, na ocasião, revisse toda a sua vida e a razão de viver.

O filho se recuperou e hoje tem vida normal. Um milagre que faz até arrepiar ouvindo contar, mas isso é outra história. O fato é que se viu despido por 3 meses de todos os sonhos, frustrações, mágoas e lamentos. Focalizou todo seu empenho na recuperação do filho.

Viu que não havia outra vida. Viu que tinha sido “besta” de preocupar-se com pequenas coisas...

Esse reecontro com o Mario me trouxe além da amizade, uma grande lição: Porque não viver esse mundo, se não há outro mundo?


24/Novembro/2007

Leo Della Volpe




Leo Della Volpe
Enviado por Leo Della Volpe em 31/12/2007
Reeditado em 27/10/2010
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