Entra ano... Sai ano...
Não gosto de falar de política por varias razões, entre elas porque o assunto está desgastado como tema no Brasil, exceto para quem integra ou se beneficia da própria, ou ainda porque não sou exatamente um conhecedor, mas apesar disso, como tantos outros cidadãos, não passo ileso pelo noticiário. Li recentemente que no leste da Europa, (Bulgária, Polônia, Romênia, Hungria e outros), há um crescente “populismo” em curso. Em primeiro lugar, desconfio de quase todas as ocasiões em que a imprensa “isenta” usa o termo “populismo”, de tanto que as mobilizações sociais populares foram taxadas com essa nomenclatura. Seria como chamar os escravos de “rebeldes” por quererem seus direitos e aos escravagistas de “empresários bem sucedidos”. Chamá-los de “elites” também não corresponderia à verdade. Quem sabe, “exploradores e explorados” fossem as denominações mais adequadas? Não tenho nada contra se ser rico. Até gostaria de ser um deles, desde que continuasse fiel aos meus princípios, não de esquerda ou direita, mas de decência e dignidade para todos. Nesses países fala-se em prováveis gestações de movimentos que se recrudescem contra as classes dominantes que herdaram ou urdiram o poder e o exercitam com a preocupação única de se resguardar do retorno eventual de comunismos, incluindo democracias tolerantes em sua concepção, que permitissem tal retorno. Nesse afã, esqueceram que os explorados foram esquecidos. Que o simples liberalismo, que beneficia economias crescentes, não é suficiente para uma pós-transição. Que seja por saudosismo ou por razões de solidariedade, os pobres remanescentes do antigo regime analisam mais com a realidade em que vivem do que com os interesses das classes dominantes. Os exploradores não aprendem nunca! Ficam sempre inebriados pelo status de que desfrutam e não são capazes de prover o mundo a seus pés de uma liga chamada terceira via que lhes dê sustentação. É dessa massa mole, dessa areia movediça sem recursos para estabelecer horizontes para si, que surgem os líderes oportunistas, cuja boa intenção pode até ter havido num momento inicial, mas acaba se transformando em projeto pessoal e a massa sendo novamente usada. Cabe aos exploradores evitar essa reação “telegrafada” pela história recorrentemente e incluir em seu processo de exercício do poder participações significativas de vozes e ações que integrem e corroborem suas gestões. Latinamente falando, Hugo Chavez é cria desses erros das elites inconformadas com a situação. Ele surgiu prometendo fazer o “trabalho sujo” que elas desprezaram com a mesma lógica de perpetuação no poder. Nisso, os povos não se diferenciam, seja na Europa ou na América.