POETA NESTOR TANGERINI
TANGERINI EM “MÚSICA & LETRA”
Nelson Marzullo Tangerini
Em 1957, a revista “Música & Letra”, Ano 1, nº 11, publica, na p. 8, um soneto, D. Boa, e três trovas de Nestor Tangerini.
Lendo o soneto, que ora transcrevemos, nota-se que ele, o trabalho, chamava-se, anteriormente, ”Quando ela passa”, e, com este título, foi publicado em seu livro “Humoradas”, Editora Autografia, Rio de Janeiro, RJ, 2016.
Nota-se, também, que Tangerini fez revisão em seu trabalho, uma vez que alterações no interior de soneto, não alteram os versos em decassílabo:
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“OUTRAS LETRAS
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HUMORADAS
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Sonetos de Tangerini
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Quando ela surge, de sombrinha clara,
essa, da moda, esplendorosa Estrela,
para o automóvel, para o bonde, para
o mundo inteiro: todos querem vê-la!
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E todo o mundo, estático, escancara
os olhos grandes, que se aumentam pela
vontade de 'envolver-lhe' a forma rara,
num desejo malvado de comê-la.
...
E a deusa passa... E passa – indiferente,
sem medo de que o mundo se desabe –
bailando as curvas, desmanchando a gente...
...
E a gente fica a interrogar-se, à toa,
como em dois dedos de vestido cabe
uma porção de tanta coisa boa”.
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Acompanha o soneto a seguinte observação: “Tendo Tangerini desistido de publicar seu livro ‘Humoradas’, anunciado há alguns anos, obtivemos, do conhecido humorista das nossas letras, autorização para oferecer esse livro aos nossos leitores, publicando um soneto em cada número da 'Música & Letra’ “.
Naquele ano, Nestor Tangerini e Dinah Marzullo, sua esposa, tinham agora três filhos: Nirton, nascido em 1940, Nirson, em 1941, e Nelson, em 1955. Com a “Vida apertada” (plagiando seu amigo Lili Leitão, do Café Paris), Tangerini preferiu não investir no livro “Humoradas”, publicado por mim, posteriormente. Elegantemente, saiu pela porta dos fundos para dar mais atenção à família. E, quem sabe, evitar a fúria dos modernistas, que, anos atrás, pregavam uma poesia sem rima e métrica?
E prossegue a revista, publicando três trovas de Tangerini:
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“SOM DA VIOLA
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QUADRINHAS DE DOM T.
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No tempo a vida é fugace,
na folhinha é que transcorre:
agora mesmo se nasce,
agora mesmo se morre.
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Para o nome que sublima
a mulher que se fez Mãe,
só encontrei uma rima
- assim que eu disse ‘Mamãe’.
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para crer, homem sem Crença,
as coisas precisas vê-las:
és um cego de nascença
que não ‘cresse’ nas estrelas”.
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Concluindo, é possível que estes trabalhos tenham sido publicados na revista pelo seu amigo Aldo Cabral. Os dois eram membros da UBC, União Brasileira de Compositores, e SBAT, Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Em parceria, escreveram duas canções, “Por mil e quinhentos” e “Garçonete”, além de algumas peças teatrais, como “Boa boca”.
Como Cabral guardava os originais de “Humoradas”, é possível que tenha trocado o título do soneto, porque D. Boa é título de um outro soneto, com conteúdo diferente.
Quanto ao número desta revista, a publicação trazia, na capa, uma foto da grande cantora Leny Eversong, “a voz”.