Ah, o Amor! Ah, a Odontologia
Exercer a Odontologia é muito prazeroso e gratificante, embora muitas vezes recebemos muita energia negativa de alguns temerosos pacientes. Eles nos chegam sempre com certas afirmativas: “detesto dentista” ou “venho porque é o jeito” ou então “tenho trauma desse barulho da broca”. Muito difícil que cheguem na clínica para uma revisão, de coração aberto, com alegria... geralmente tem “um dente quebrado ou doendo” que trouxe o paciente ao consultório.
Pois bem, mas a profissão também nos dá muitas histórias interessantes e muitas vezes engraçadas. Semana passada eu estava no meu trabalho numa Universidade e chegou uma paciente. Entrou na sala de espera. Tinha a origem bem humilde. Fui até ela e olhando prá mim, perguntou:
- Aqui é o dentista?
Respondi:
- Sim. Aqui tem dentista e sou eu. Posso ajudar?
Ela:
- doutor, há muitos anos eu arranquei meu dente na faculdade de odontologia. E vim aqui prá saber se meu dente que arrancaram tá aqui!
Eu, incrédulo, perguntei:
- Mas se a senhora arrancou porque a senhora veio atrás desse dente?
Ela:
- porque eu quero ele de volta doutô. Me arrependi e vou botar ele de novo no lugar...
Argumentei:
- Mas senhora, se foi extraído é porque não servia mais. Acho até que esse dente deve ter sido jogado fora.
Prá que eu disse isso? Ela botou a mão na cabeça e num ar de desespero falou:
- pelo amor de Deus, se alguém achou esse meu dente, pode fazer algum “trabalho” contra mim. Prá que jogaram fora meu dente, Deus!
Então eu tentei dizer que existia um local específico prá jogar, que ninguém iria pegar o dente dela e que se ela tivesse dúvidas, fosse até a Faculdade de Odontologia, que na ficha clínica dela deveria constar a data da extração e assim eles explicariam o que fizeram com o dente dela.
Ela parou, olhou prá mim, pensou... fez um ar de riso e tascou:
- Mas doutor, pode ser que alguém que gosta de mim, e que nunca me esqueceu, tenha ficado com esse dente meu de lembrança, né não?
E eu na mesma hora:
- Claro! Deve ter sido isso.
Ela abriu um sorriso cheio de faltas de dentes e foi embora contente e feliz da vida com a sua constatação.
Ah, o amor!
Ah, a Odontologia...!