Dia dos namorados
Foi um dia como esse que me fez guardar um segredo que levarei comigo pra ser cremado.
Desde que meu marido faleceu, há quase nove anos, transformei meu paraíso numa espécie de pousada, com alguns chalés espalhados pelo quintal, para os fins de semana e feriados. A pequena, gostosa e aconchegante cidade serrana de Miguel Pereira, a apenas 110 km do centro do Rio, foi onde escolhemos para criar nossos filhos.
A mulher do rapaz que cuida do meu quintal me ligou, já à noitinha, disse que tinha uma "amiga" muito legal, sozinha, que só a conhecia do face, mas já gostava, pelas conversas que tinham no whatsapp e que ela havia lhe pedido para procurar uma pousada onde pudesse ficar alguns dias. Pediu permissão para dar meu telefone para que se entendesse comigo. Na mesma noite Renata me ligou ( seria a Renata, ingrata,do cantor Latino?). Ela é da Tijuca, no Rio, e precisava passar de início 5 dias, num lugar para onde pudesse fugir, sem perigo, do apto prisional que lhe abrigava da pandemia. Só que tinha um companheiro que viria junto. Tudo acertado, ela quis saber como chegariam. Perguntei se viriam de carro ou ônibus. Ela me explicou que iria de ônibus sozinha. O companheiro já era morador da cidade. Indiquei o chalé menor, independente e distante da casa em que vivo. Era uma quinta feira, já pela manhã, de uma semana como essa dos namorados, quando eles chegaram. Pelas câmeras, reparei que já conhecia o tal companheiro. Era o marido de uma amiga minha, dos tempos de Embratel, que ao se aposentar, veio com a família pra essa cidade. Pedi que alguém lhes levassem às acomodações. Eu já havia dito que algumas vezes não estaria na propriedade. Embora passando-lhe todas as dicas possíveis de restaurantes e passeios na cidade, ela me disse que, fora a PANDEMIA, ela e o companheiro eram muito caseiros. Que bastavam-lhes a tv. Quando minha amiga me ligou, ela me telefona quase que diariamente, depois de uma breve conversa, eu perguntei pelas "crianças", já adultos, que foram estudar em Londres e também pelo marido. Ela me disse que estavam muito bem! Que Viverem aqui, nesse clima maravilhoso, depois de casados por quase trinta anos, foi o melhor que fizeram à família e ao casamento, embora o marido, continuasse trabalhando de serviço temporário, na empresa onde já era aposentado e que, às vezes, o coitadinho tinha que trabalhar até nos fins de semana!
Foram cinco dias silenciosos naquele chalé. Alguns dias depois da partida, Renata me ligou, disse que amou e que um dia voltaria para também me conhecer pessoalmente.
Quem sou eu, pobre mortal, pra pôr caroço no angu dos outros?
A meta na vida é a felicidade e cada um procura ser feliz do seu jeito. Afinal, o amanhã pode nem chegar !
Que vivam felizes para sempre, até que a morte os separe !
Jandiel
Jandira Leite Titonel