POETA LUÍS MURAT
LUÍS MURAT E O CAFÉ PARIS
Nelson Marzullo Tangerini
Segundo o “parisiense” Lourenço de Araújo, o poeta Luís Murat, nascido em Itaguaí, RJ, a 4 de maio de 1861, foi um dos frequentadores do legendário Café Paris, movimento que vicejou em Niterói, ex-capital do Estado de Rio de Janeiro, nos anos 1920.
Luís Norton Barreto Murat, diplomado em Direito, foi político, escrivão, jornalista e poeta – com uma vasta produção literária.
Sobre ele, escreveu Ronald de Carvalho:
“Luís Murat, que se filia acidentalmente à geração parnasiana, é um romântico; sua poesia, como a de Luís Delfino, se ressente de uma particular influência de Victor Hugo. O pendor para as umagens fulgurantes e para a exaltação verbal, para os símbolos grandiosos e as sínteses histórica, onde o poeta costuma beber os seus mais belos motivos, dá-lhe um ar de parentesco pronunciado com a família alemã e francesa”.
Abaixo, publicamos um magnífico poema da lavra de Murat:
“PAISAGEM AFRICANA
Tardo, pisando o doce areal dormente,
O dromedário vai beber ao Nilo;
E, os rubros raios do cariz do Oriente,
Ressoa o bronco e mole crocodilo.
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Água morna do oásis não refresca
A ardente boca ao nômade sequioso,
E, enquanto a voz do vento cavernoso
O rio empola na estação da pesca.
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A esfinge, a eterna esfinge do deserto,
Num delírio monótono de pedra,
Estende o olhar, idiotamente aberto,
Pelo areal onde o tojo ruivo medra.
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De sangue o sol, à noite, o saibro embebe,
Porém, ao meio-dia, quando passa
Pelo Equador, faz da África uma taça
E o próprio sangue, em longos golos, bebe”
Murat, que foi Membro da Academia Brasileira de Letras, ABL, faleceu na Cidade do Rio de Janeiro a 3 de julho de 1929.
Publicou “Quatro poemas”, 1885, “A última noite de Tiradentes (poesias), em forma de folhetim, “Ondas”, 1ª Série, 1890, “Ondas, 2ª Série, 1895, Ondas, 3ª, Série, 1890, “Poesias Escolhidas”, 1917, “Ritmos e ideias” (Poesias), 1920, entre outros. Em conferência, apresentou trabalho sobre o “Centenário de Bocage”.
Em “O poder das lágrimas”, ainda que este soneto nos remeta ao Romantismo, pelo seu conteúdo sentimental, o trabalho, um decassílabo com rimas ABAV, ABAB (nos quartetos) e AAB, AAB (nos tercetos), nos mostra a influência do Parnasianismo e do Simbolismo, tão presentes em alguns poetas “parisienses”, 2ª Geração Parnasiana:
“Com que saudade para o céu não olhas
Vendo de nuvens todo o céu coberto,
E engastas de pérolas as folhas
E o coração das árvores deserto.
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Como uma grande rosa, a alma desfolhas
Dentro do seio, inteiramente aberto,
E esses restos de flor passando molhas
N´água do arroio que coleia perto.
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Molha-as, sim, nesta linfa algente e casta!
Que uma só gota cristalina basta
Para o calor em chuva ir transformando.
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Hás de ficar com os olhos rasos d´água,
A dor há de acalmar, que a própria mágoa
Tem dó de ver uma mulher chorando”.
Como jornalista, Murat fundou o jornal “Vida Moderna” (10 julho de 1886 a 25 junho de 1887) com Artur Azevedo, em que colaboravam também Araripe Júnior, Xisto Bahia, Coelho Neto, Alcindo Guanabara, Guimarães Passos e Raul Pompeia, dentre outros.
Depois, o poeta contribuiu para a “Cidade do Rio”, de José do Patrocínio, e em “A Rua “, com Olavo Bilac e Raul Pompéia, além outros jornais cariocas. Usava eventualmente pseudônimo Franklin.
Jornalista combativo, teve participação significativa nas campanhas em prol da Abolição e pelo advento da República.
É bom saber que um dos frequentadores do Café Paris tenha sido um dos membros da ABL, mais um motivo para a Academia entrar na luta pela memória dos poetas “parisienses”.
Pesquisa:
Coutinho, Afrânio; Sousa, J. Galante de. Enciclopédia da Literatura Brasileira, 2ª Ed. rev. E ampl. São Paulo: Global Editora. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional: Academia Brasileira de Letras, 2001. Afrânio.
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Falcão, Rubens, Antologia de Poetas Fluminenses, Rio de Janeiro: Record, 1968. Falcão.
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Barros, Luiz Antônio, Os Poetas Satíricos do Café Paris, Clássicos Fluminenses, Volume 9, Niterói, Editora Nitpress, 2014.