DE COMO VIAJEI NO TEMPO
Hoje em dia fala-se muito em inteligência artificial, e até na possibilidade de viagens no tempo. Para mim, já existe uma espécie de viagem no tempo: a memória. Há uns dois ou três dias passei por uma experiência destas. Estava na calçada observando a minha netinha de nove anos em suas tentativas de, finalmente, retirar as rodinhas de apoio de sua bicicleta. Em outras palavras: aprender a andar de bicicleta. Tudo sob os olhos atentos do paizão, para que nada de mal lhe viesse a acontecer.
Foi aí que, sem nenhum ruído, nenhuma luz piscando, viajei no tempo uns setenta anos e me vi naquela mesma situação, quando montado em uma bicicleta velha e enferrujada, tentava sem sucesso, mudar a direção que me levava diretamente para um poste que havia, bem no meio da rua. Eu já conseguia me equilibrar em cima dela, dirigi-la era outra história. No último instante, soltei as mãos que seguravam o guidão e segurei o poste.
Num piscar de olhos, voltei ao presente ao ouvir um grito da netinha: Consegui, pai! Consegui!
Não dá para exprimir com palavras o ar de felicidade em seu rosto.