Saturday Night
“Com meu carro sigo acelerando pela vida, deixando as preocupações para trás”.
Para muitos, carros (aquele tal mundo automotivo, do ronco dos motores) se resumem a um mero meio de transporte, daqueles que nos levam para o trabalho, faculdade, casa da namorada, mais precisamente uma extensão do poder de locomoção do homem, possibilitando um deslocamento não apenas muito mais rápido como também confortável, sem exigir esforço físico se equiparado a uma caminhada, corrida ou mesmo pedalar em uma bicicleta.
Não chega a ser raro aqueles capazes de preterir o próprio automóvel diante da possibilidade de utilizar os serviços de um Uber/Táxi, sendo esse um escapismo do estresse propiciado pelo trânsito, sobretudo nas grandes cidades. Ou foram engabelados pela sedutora possibilidade de se esparramar no banco traseiro do carango de aluguel e passar o percurso inteiro empunhando o celular, assistindo vídeos no YouTube, fazendo postagens no Instagram, acompanhando as últimas notícias ou jogando conversa fora pelo WhatsApp.
Essas pessoas são incapazes de experienciar o verdadeiro valor que pode ter um automóvel. Carros são muito mais que um mero facilitador para se encurtar distâncias. Essa talvez seja a função básica do ônibus, trem ou do avião... Carros são aprazíveis, verdadeiros companheiros na incessante busca pela felicidade, singrando mares de asfalto apinhados de sinuosidades, varando a escuridão com o fulgor vertido pelos faróis, conseguindo até abrir passagem pelos sombrios caminhos enevoados. Como um barco a vela pegando carona com o vento, flutua sem destino certo, seguindo a linha tracejada a delimitar o centro da pista e nessa toada eterniza momentos vivazes ao lado de pessoas queridas.
Pisar no acelerador, ouvir o pulsante ronco do motor, os espelhos refletindo um emoldurado naco do mundo se movendo para cada vez longe, impulsionado pela metafórica sensação dos problemas estarem também ficando para trás, ao menos naquele instante. E tudo isso pode ser ainda mais divertido durante as tão esperadas noites de sábado. Costumo pensar que maratonar uma série ou fazer uma programação variada de filmes até pode fornecer diversão, mas bom mesmo é ganhar as ruas, sem hora para voltar, talvez até para não regressar nunca mais.
Até pode existir controvérsias, como tudo na vida, mas o “saturday night”, como gosto de chamá-lo, quem sabe não desponta como o mais esperado momento da semana. O perfeito instante para canalizar as boas energias, respirar esperança. Surge como uma espécie de recompensa diante de toda lugubridade que os longos dias da semana, marcados por tanta correria, são capazes de evocar.
O calendário, seja ele impresso ou uma representação virtual de um APP telefônico, parece simplesmente ficar mais estonteante quando cruza com a segunda letra S. E mesmo a iminência de sua chegada já é consoladora, desaguando angústias e frustrações. “Amanhã é sábado”, quantas vezes é apenas isso que desejamos ouvir. E pode ser melhor ainda quando a frase decorre assim: “amanhã é sábado, o tanque está cheio e nós vamos sair por aí”, em busca de não se sabe ao certo o quê. No fim, é possível acontecer tudo, e inclusive nada, mas apenas a possibilidade de embarcar nessa desventura, faz o coração inundar de esperança ao saber que daqui a sete dias é “sabadão” novamente, regressando em grande estilo, com a mesma magia de um bálsamo catártico.