A lenda da Ciganinha que vende cebolinha verde!
A Lenda da Ciganinha que vende cebolinha verde!
Conta a lenda que a ciganinha toda noite, não importa a lua, sai pelas estradas, com seu balaio de taboca cheio de cebolinha verde, oferecendo aos homens maduros e aos viúvos de mulheres vivas. O homem que aceita e compra, ela o encanta e o leva para debaixo do seu canteiro de cebolinha de folha, que está sempre verdinho, mesmo durante a seca.
Eu ainda não tinha visto.
Diz o estoriador que a origem da lenda remonta a muitos, muitos anos antes do Patrimônio virar Gurinhatã-MG. Viviam nessas paragens clãs ciganos numerosos. Dentre eles uma ciganinha, uma menininha de 13 anos, se destacava pela beleza, astúcia e uma adaga de prata que trazia sempre consigo.
Continua o estoriador, a menininha, volta e meia, era vista debaixo de uma gameleira, absorta, pensativa, com sua adaga, limpando as unhas, e ele tem certeza, que ela meditava sobre a vida e, se um dia, poderia viver diferente, não mais debaixo de uma tenda, mas num castelo com cinco quartos, duas salas, uma cozinha, dois banheiros e janelas abertas para o mundo e ninguém para mandar nela... e acordava com os gritos da mãe para ir buscar um pote de água no ribeirão, menina sonsa!
Numa festa cigana, em volta da fogueira, na sétima badalada antes da meia noite, a ciganinha desejou por sete vezes ser roubada por um homem que não fosse cigano e ela pudesse realizar seus desejos, seus sonhos, longe da tenda familiar. As brasas e labaredas da fogueira, não é possível negar, por sete vezes sinalizava, ela sabia entender, “sairás, não viverás”.
Sete dias depois, à beira da tenda, um homem jovem, olhar cabisbaixo, tristonho, melancólico, pede um copo d’água. A ciganinha adianta e identifica naquele olhar todo o sofrimento que ela própria tem vivido. Estende a mão e conduz o estranho até a fonte e na sua mente é a realização do pedido em frente à fogueira sagrada. O homem, ante tanta candura, sente o coração acelerar e de pronto desanuvia todo o pesadelo da separação infiel... e sete noites depois, o roubo foi consumado!
Mas... não foram para um castelo e sim para uma tapera lá longe, bem longe, ao pé da serra.
Pacientemente a ciganinha esperou por sete anos a realização de seu sonho.
E, sentada debaixo da gameleira, limpando as unhas com sua adaga de prata, por fim a ciganinha compreendeu a mensagem das labaredas: “sairás, não viverás”.
Aí, então, conta o estoriador, ela resolveu plantar cebola.
Durante sete dias ela preparou o terreno onde seria o canteiro. Terminado chamou o marido. Ele, malicioso, quis saber para que aquele buraco. A cigana, sorrateira, aproximou e disse que era sua liberdade, daqui para frente venderia cebolinha. Ele riu. Ela, mansamente, enfiou a adaga de prata em seu peito e o empurrou para dentro do canteiro e, enquanto estrebuchava, ela o cobriu de terra e plantou as mudas de cebolinha, que no outro dia, como mágica, estavam a ponto de colher!
Todos os dias, com sol ou chuva, a ciganinha colhia um balaio de cebolinhas e vendia nas redondezas para o seu sustento. Quando perguntada pelo marido, dizia que estava a trabalhar em fazendas longe dali.
No sétimo ano, à beira do canteiro de cebolinha, a cigana, outrora menina, pegou sua adaga de prata limpou as unhas, reviveu o dito das labaredas: “sairás, não viverás”, chorou e... desapareceu!
Terça feira, não sei porque, atrasei e fui tarde da noite para a fazenda. Perto de lá, na porteira do Aramis, alguém fez sinal para parar, parei. Era uma menininha, com um balaio de taboca cheio de cebolinha verde. Me ofereceu, eu agradeci. Ela sorriu e continuo seu caminho. Apesar da noite escura pude ver pelo retrovisor o seu espectro sumindo na estrada.
Cheguei na fazenda arrepiado!
Moral da estória: Homens maduros, principalmente viúvos de mulheres vivas, não convém ceder aos encantos e realizar os desejos de menininhas de 13 anos, porque podem acabar debaixo de um canteiro de cebolinha de folha!