Gravidez de Relígia.
Até aqui um dos meus pensamentos concluídos, por assim dizer, foi sobre os filhos. Sempre me manti longe dos infortúnios de minha família devido as observações rasas de sua ignorância. Ela já era infeliz, ainda mais agora com a gravidez de Relígia. O fato desponta em meu exemplo crucial: a vinda da infelicidade.
Eu nunca pude comentá-la com Relígia, seria um desperdício de preocupação, sairia como errada e mesquinha. Ela havia jogado algumas oportunidades excepcionais por afeto, isso é simbólico, ao menos eu esperava que a mesma tivesse uma vida boa, o que não é suficiente nos dias de hoje.
Tudo bem, ela possui razão quando afirma que ser como eu sou aqui, enfurnada nessa sala ampla, estudando coisas 'sem sentido', tornam-me alguém ingênuo. Eu não tenho defesa de afirmar nada em relação a isso, ela seguiu a linhagem dos adultos.
Quem quer muito não quer nada, Relígia não me deixaria indiferente desta empreitada quando ousou bater em minha porta, nesse apartamento "sujo e empalhado". Era ela com seu bebê, uma visita importuna.
— Não aguento mais, preciso que me ajude! — Disse ela me encarando.
— Eu preciso viver a vida, as festas acontecem direto, quem eu sou não pode se perder assim.
Meu Deus, o que ela estava pensando? Eu não tenho nada haver com esse bebê, sabe muito bem que desconsidero a família que pertencem.
— Não posso fazer isso, Relígia; me desculpe — ela interrompeu.
— Vamos escute! Cuide dessa criança.
— Eu já disse, não posso fazer isso. Eu sou uma criança também.
— Acontece que você não foi criada como uma. Vamos pegue o bebê.
Ela o pôs em meus braços, conseguiu me paralisar e eu não entendia como a verdade dói! Algo somente dos fortes e os que sabem serem fracos.
Eu cuidei do bebê, apesar de não possuir felicidade para criar uma criança. Ele se tornou tal como eu: um responsável pelas dores do mundo.
L. F. de Olivier.