Ventana
Observo o trânsito da avenida encostado na janela do apartamento. O gato me faz companhia deitado no peitoril e vira a cabeça quase sincronizado a mim quando passa algum veículo interessante. É uma via movimentada. De vez em quando, ou seja, uma média de duas vezes por mês, acontece algum acidente.
Semestre passado um ônibus que desviou de uma moto pilotada por alguém inconsequente que ignorou o sinal vermelho e bateu num poste derrubando fios de alta tensão que fizeram um espetáculo de faíscas. Como era madrugada, o coletivo não estava cheio e não ouve nenhuma vítima. Acompanhei até o amanhecer a chegada da equipe da prefeitura que rebocou o carro no começo da manhã e, mais tarde, os eletricistas acompanhados da defesa civil que fizeram os reparos na fiação.
Começa a chover. Cai um raio próximo e o trovão que o segue assusta o gato que salta e se esconde debaixo da escrivanha na qual escrevo. O vento está no sentido oposto do meu ponto de observação; não é preciso fechar as venezianas. Quarenta minutos depois a tempestade acaba. Os vendedores de balas e chocolates voltam à esquina para oferecer seus produtos aos motoristas e os motociclistas voltam a furar o sinal fechado.
Vai chegando a madrugada, o gato lambe a pata dianteira esquerda saciado após comer sua ração e desligo o PC e vou assistir a um filme.