Pecados Digitais - A Inveja

PECADOS

Anteriormente, publiquei textos que versavam sobre pecados. Falei sobre os pecados capitais(1) e dos pecados digitais(2) associados a algumas plataformas. Certamente, aqueles pecados do Século XIV expandiram-se e ganharam as redes sociais neste início de Século XXI. Sendo assim, é necessário demonstrar que pecados como a Inveja ganham mais ou menos espaço dependendo da plataforma.

Neste caso, destacamos a plataforma Facebook (atual Meta) como a que mais possui usuários que praticam este pecado, sem o menor pudor ou culpa. Em outras palavras, de forma totalmente irresponsável e, eventualmente, possível de tipificar como um crime.

INVEJA

Por definição, no dicionário podemos ter um pouco da ideia de que comportamento, comum atualmente, a que estamos nos referindo.

in·ve·ja

sf

1 Sentimento de ódio, desgosto ou pesar que é provocado pelo bem-estar ou pela prosperidade ou felicidade de outrem.

2 Desejo muito forte de possuir ou desfrutar de algum bem possuído ou desfrutado por outra pessoa; avidez, cobiça, cupidez.

3 POR EXT O objeto da inveja.

Fonte: Dicionário Michaelis UOL

Observa-se que a primeira e a segunda acepções são, inquestionavelmente, pecados digitais e capitais, livres no Facebook.

FACEBOOK - A INVEJA

Anteriormente, na criação, a rede social era para aproximar as pessoas com as mesmas afinidades. Atualmente, é uma plataforma que se chama Meta e seus usuários fazem quase tudo com os conteúdos das suas vidas, interesses e atividades. O aplicativo oferece uma perspectiva intrigante quando relacionada ao pecado bíblico da inveja.

Considerando a ideia inicial de Mark Zuckerberg e a evolução para o que conhecemos hoje, é possível traçar paralelos intrigantes. Além disso, podemos ser convincentes na demonstração entre a narrativa bíblica do pecado original e a dinâmica digital contemporânea.

A ORIGEM

A história do Facebook começa, a princípio, como um projeto universitário com a finalidade de conectar estudantes em uma plataforma online. Entretanto, o objetivo principal era fazer com que algumas garotas notassem um nerd de nome Mark.

Desse modo, é possível uma analogia do aplicativo das redes sociais como a serpente e a Eva no Jardim do Éden. O Facebook tentou os usuários, oferecendo a maçã digital da comparação, da cobiça, da intriga e, sem dúvida, da inveja.

A inveja, conhecida como o pecado original na tradição bíblica, é sobretudo a raiz de muitos males das redes sociais.

MUNDO DIGITAL

No contexto das redes sociais, a inveja manifesta-se de maneira peculiar, transformando-se em um fenômeno digital ubíquo.

A necessidade de se comparar com os outros, muitas vezes baseada em vidas cuidadosamente falsas, cria um ciclo de insatisfação constante.

Imagine-se, e é fácil, um usuário medíocre (no sentido de mediano) do Facebook rolando o feed de notícias.

Num feed, ele se depara com imagens de uma viagem exótica de um amigo, com legendas que destacam as experiências mais incríveis. E nem precisa pensar em questionar cada imagem ou cada depoimento, está perdendo tempo. Em seguida, uma postagem de um colega de infância, falando do novo emprego, cheia de elogios e likes. Esse ciclo de comparação constante, embora inerentemente humano, tem verdades e meias-verdades, admissíveis no ambiente digital. Desse modo, temos o equivalente moderno à tentação de muitas figuras mitológicas, nem sempre boas ou ruins.

Inveja Boa e Inveja Ruim

A discussão sobre a natureza da inveja frequentemente gira em torno da dicotomia entre "inveja boa" e "inveja ruim".

Alguns argumentam que a inveja é uma força motivadora, impulsionando as pessoas rumo aos seus objetivos, inspirando-se no sucesso alheio. Essa perspectiva sugere que a inveja pode ser um estímulo positivo, alimentando a ideia de crescimento pessoal e profissional. Por outro lado, os que defendem que a inveja transforma-se em ressentimento e rivalidade, gerando relações tóxicas e ambientes ruins são muitos.

Contudo, uma visão mais equilibrada propõe que a natureza da inveja tem ligação intrínseca ao caráter de quem a experimenta.

Desse modo, em vez de categorizá-la como "boa" ou "ruim", é melhor compreendê-la como instintiva e relacioná-la a escolhas individuais. Certamente, a inveja, por si só, não possui uma qualidade moral inerente; são as ações e reações das pessoas que determinam seu impacto.

Por isso, a maioria dos indivíduos de caráter sólido transformam a inveja em admiração construtiva, usando-a como inspiração. Por outro lado, aqueles com caráter frágil e duvidoso, a transformam, instintivamente, em ressentimento e comportamento negativo.

Portanto, a ideia central é que a inveja é apenas uma emoção. Desse modo, a sua qualidade moral está na forma como as pessoas escolhem lidar com ela e não na superfície do Facebook.

PERFIS NO FACEBOOK

Destarte, o impacto psicológico dessas interações digitais, no Facebook, proporciona um estado de constante insatisfação. A inveja floresce quando os usuários se veem em uma competição silenciosa por reconhecimento e validação online. A necessidade de acumular likes e compartilhamentos torna-se um indicador digital de status, e uma a sede insaciável por aceitação.

A comparação incessante entre perfis, entretanto, não é o único aspecto do pecado digital da inveja. A forma como as plataformas de redes sociais, incluindo o Facebook, utilizam seus algoritmos chega a ser criminosa.

Alguns perfis destas redes sociais, principalmente o Facebook que assumiu o protagonismo após o declínio do Orkut, são criminosos. Surpreendentemente, muitos perfis falsos, com imagens e postagens contando mentiras, mantêm-se ativos e gerando compartilhamentos.

Desse modo, personalizar o conteúdo de cada perfil tem um papel significativo no processo de enganação de milhões. Os usuários seguidores sofrem exposição constante ante conteúdos que reforçam seus próprios pontos fracos. Desta forma, amplifica-se a sensação de insuficiência, fracasso e desalento, impulsionando a inveja.

PERFEIÇÃO INEXISTENTE

Como se não bastasse as perversidades que gente do mal, fingindo-se de gente de bem, faz, temos imagens de uma perfeição inexistente. As elites, os representantes das oligarquias e a nobreza de qualquer sociedade, não possuem perfis em redes sociais populares. É provável que a patuleia ainda não entendeu que os verdadeiramente poderosos, quando muito, mandam seus manipuladores para o Facebook.

Alguém imagina, por exemplo, que Zuckerberg passa mais de uma hora lendo comentários no seu perfil ou caixa postal comum?

- Santa inocência, Batman !!!

Enfim, a busca por uma perfeição, no mundo virtual alimenta o ciclo da inveja digital que, com toda a certeza, destrói muitas pessoas.

Certamente, fotos ou momentos que aparecem estrategicamente e a construção de uma narrativa online distorcem a realidade. Os usuários, ao compararem suas vidas reais com as versões ideais de alguém, caem na armadilha da inveja. Inquestionavelmente, a lacuna entre a realidade e a representação digital gera um sentimento de inadequação surreal e cruel.

Contudo, ressalta-se que, assim como os pecados originais "afetam" a humanidade, o pecado digital não se limita a um indivíduo ou pequeno grupo. É uma força que permeia as interações online, impactando a saúde mental coletiva e gerando uma cultura de comparação constante.

É O FIM DO MUNDO

Em suma, o The Facebook, agora Meta, representa o Jardim da Tentação Moderno, onde o pecado da inveja prospera sem limites. Tudo em meio às postagens com ou sem filtros e às vidas em exposição 24x7.

A busca incessante por validação e reconhecimento online alimenta a inveja digital, tornando-se uma força que molda a mente dos usuários. À medida que refletimos sobre o estado atual das redes sociais, devemos reconhecer os impactos negativos dessas modernidades. Devemos, outrossim, considerar as dinâmicas e comportamentos para tentarmos ampliar espaços digitais saudáveis e autênticos.

P. S.

Alguns teóricos afirmam que o Facebook está em fase terminal e acabará como o Orkut. Certamente, tenho muitas dúvidas sobre este tipo de previsão. Portanto, depois do que aconteceu com o Twitter (agora X), é melhor ficar atento e procurar outra plataforma de inveja.

Ó dúvida cruel !

(1) "Pecados capitais - Do Século IV ao Século XXI" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/01/28/pecados-capitais-do-seculo-iv-ao-seculo-xxi/

(2) "Pecados - As origens e o mundo digital" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/05/04/pecados-as-origens-e-o-mundo-digital/