ALÉM DO CONVENCIONAL: ILPF como Pilar de Sustentabilidade

Moacir José Sales Medrado[1]

 

Em um cenário global onde a sustentabilidade é crucial, a Estratégia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) se destaca como um modelo de inovação e esperança. Frequentemente, as discussões sobre a ILPF são eclipsadas por generalizações presentes em discursos tradicionais, que falham em capturar a essência e a complexidade desta estratégia. É fundamental distinguir a ILPF dos sistemas agroflorestais tradicionais, como os silviagrícolas, silvipastoris e agrossilvipastoris de baixa complexidade, que frequentemente não incorporam práticas tecnológicas avançadas e sustentáveis.

 

A ILPF não é uma mera continuação destes sistemas; ela os engloba e os transcende, integrando tecnologias sustentáveis como o sistema de plantio direto, rotação de culturas, controle integrado de pragas e doenças, controle biológico e um manejo dos solos que leve à formação de um perfil vivo biologicamente. Esta integração é a chave para uma produção mais eficiente e sustentável, unindo a depender do sistema, árvore, lavoura e pecuária de maneira harmoniosa e respeitosa ao meio ambiente.

 

Além disso, é crucial esclarecer que a ILPF não abrange sistemas agroflorestais implementados em áreas de florestas primárias desmatadas. Ao contrário, a ILPF é uma ferramenta de recuperação de agroecossistemas degradados. A essência da ILPF reside na promoção da sustentabilidade e na conservação de recursos naturais, distanciando-se de práticas que comprometem ecossistemas virgens e a biodiversidade.

 

A ILPF se destaca pela sua capacidade de diversificar fontes de renda, integrando de forma eficiente agricultura, pecuária e silvicultura. Este modelo reduz a dependência econômica de uma única atividade, aumentando a resiliência financeira e mitigando riscos. A estratégia promove também um ciclo virtuoso de nutrição do solo, graças à combinação entre culturas, pastagens e árvores, melhorando a fertilidade e diminuindo a necessidade de fertilizantes químicos.

 

Em termos de produtividade, a ILPF supera as monoculturas graças à sua estrutura integrada. A presença de árvores, por exemplo, diminui o estresse térmico em culturas e animais, enquanto a matéria orgânica de diferentes componentes enriquece o solo, gerando em alguns casos verdadeiros “cofres de carbono”. A gestão eficiente da água é outro ponto forte, com árvores ajudando a regular o ciclo hídrico e prevenir a erosão.

 

A conservação da biodiversidade e o papel das árvores na captura de carbono são aspectos fundamentais da ILPF, destacando seu compromisso com a mitigação das mudanças climáticas. A estratégia também é resiliente a variações climáticas, proporcionando um ambiente mais estável para a silvicultura, agricultura e pecuária.

 

A ILPF é um modelo revolucionário que redefine o panorama da produção agrícola, oferecendo uma abordagem holística e sustentável, que maximiza o uso de recursos naturais, melhora a resiliência e proporciona benefícios econômicos e ambientais significativos. No contexto de preocupações ambientais e de segurança alimentar, a ILPF se apresenta não apenas como uma opção, mas como um caminho indispensável para um futuro sustentável.

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE); Especialista em Planejamento Agricola (SUDAM/SEPLAN – Ministério da Agricultura); Doutor em Agricultura (ESALQ/USP); Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado)