TRANSIÊNCIA CRÔNICA

Ouvi hoje um episódio do programa “Radio Novelo” (YouTube) que contou a história de um escritor que escreveu um livro sobre o Brasil utilizando gravação da história de vida de seu pai, caminhoneiro aposentado.

Chorei quando ouvi o pai dizer que sente não ter gravado os momentos que esteve com os filhos. Chorei quando disse que não queria que os filhos passassem fome. Mas, a emoção foi pelo pai contando, não pelas dificuldades que sei ter passado na infância, embora não lembre delas; e também porque não gravei a infância da minha filha, e agora nada recordo.

Não gravei a infância da Luiza provavelmente porque isso nunca me ocorreu. Tirei muitas fotos. Temos muitos álbuns. Entretanto, são lembranças imóveis, sem vida. Muitas vezes mesmo vendo a foto não me recordo do momento.

É muito triste não recordar do passado. É muito triste não se dar conta de agir para guardar o momento, não ter o estalo para tirar uma foto. Filmar, raramente me ocorre.

Farei 57 anos em fevereiro e não lembro de quase nada da minha vida (o que inclui lembranças de todas as pessoas que me cercam e que me cercaram). Se não me lembro de vocês ou de fatos com vocês lamento, não é de propósito.

Rinaldo Saracco
Enviado por Rinaldo Saracco em 10/01/2024
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