Amor Definitivo

Parece ser um vício do pensar: o indivíduo pega sua experiência individual e a generaliza como sendo natural à espécie. E, o mais radical desse vício, é que se o indivíduo é autor, a registra ...

A juventude é, caprichosamente, marcada pelos sonhos e fantasias. Quem viveu essa fase nas décadas de 1950 e 60, teve o privilégio de ter seus sonhos e fantasias muito fortemente influenciados, pelo especial cinema daqueles tempos.

Tal como um escultor, o jovem, tomava como matéria prima os astros e seus personagens e, com muito rigor, esculpia, mentalmente, o seu amor fantasmagórico. Trabalho que parecia não ter fim, pois a cada filme assistido, material, que se fizera relevante, necessitava ser acrescentado.

Nascia, assim, o amor fantasmagórico, sempre com a presença, apesar de inconsciente, daquelas do palco da vida, reais e de maior influência, a mãe e a avó.

Depois de algumas dezenas de filmes assistidos, dava-se por satisfeito. Escultura concluída, amor fantasmagórico idealizado: loura, com rosto de europeia oriental e taurina como Marina Vlady; olhos azuis como Ingrid Bergman; com colo exuberante como Sophia Loren, ou Anita Ekberg; pernas esculturais como Marlene Dietrich; o talento para canto como Jules Andrews; a graça e a elegância de Audrey Hepburn; o humor e a singeleza de Doris Day; a ternura e a capacidade de tocar corações de Giulietta Masina...

Impossível de se tornar realidade, esse amor fantasmagórico gerava busca incessante, a cada característica semelhante encontrada no cotidiano, esperança numa paixão fugaz e desilusão. Uma nova fantasia se criava: repetir esse roteiro ao máximo, com obstinação, aumentando as possibilidades de encontrar o amor fantasmagórico.

A juventude passa, a certeza da solidão aumenta, mas o roteiro esperança - paixão – desilusão continuava em cartaz, até que, num belo dia, ocorre o encontro daquela mulher que, sem qualquer esforço, rasga a fantasia, desfaz o sonho de amor fantasmagórico e a busca às possibilidades para encontra-lo.

Essa mulher é aquela que nos inspira disposição para cuidar, para responsabilizar-se, para respeitar, para incentiva-la a evolução, para conhece-la. Essa mulher é a que a ti se associa, para o nascer de outros seres e a construção de um lar. Essa mulher é a que se tem a vontade de com ela envelhecer...

As avós daquele tempo diziam aos netos, que fomos criados à semelhança de rápido e apressado cortar de laranjas. Encontrar o par ideal, é encontrar o outro pedaço que completa a laranja original.

Essa mulher que te inspira, que a ti se associa sem moderação, que te faz sentir vontade de, junto a ela, envelhecer ... Essa mulher é a que contigo complementa a laranja original, é teu amor definitivo.

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JOHANNA MARIA

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J Coelho
Enviado por J Coelho em 10/01/2024
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