Último samba
Naquele mesmo bar, na mesma mesa todos os dias batucava a caixa de fósforo pela manhã enquanto toma seu café sem açúcar a pedido de seu médico. Corre os olhos miúdos já lacrimejando no salão da fantasia e veja a porta-bandeira dançando no compasso de seu samba e flutuando como um pássaro beija flor que corteja o néctar adocicado. Chapéu de Panamá pequeno e o sapato branco combinando com o terno azul Marinho surrado, as mãos trêmulas chocalha a caixa como se estivesse tocando num tamborim.
Lembra com saudade os velhos tempos a cabocla que fisgou seu coração, muitos carnavais passaram juntos formaram família e depois foi embora mas esqueceu de ensinar como esquecê-la.
Na tela da TV a reportagem mostra o pão de açúcar, a orla de Copacabana os inúmeros guardas sol e milhares de banhistas naquela manhã de calor, o sambista se emociona debruça na mesa dá o último suspiro não suportando tanta emoção morreu escrevendo a letra de seu último samba.