Sei, era coisa de criança. Mas, se transformou num grave problema dos adultos.
Meu irmão, irmã e eu brincávamos com nossos primos Clara, Gil, Della, Semi e Paul. Isso acontecia todos os dias já que os pátios de nossas casas eram ligados e não havia uma cerca separando-os.
Nossos pais trabalhavam juntos, fabricando lápides para cemitério e todos aqueles anjos, vasos, flores e outras belezas para o mesmo fim: tornar o lugar de descanso final um memorial de amor dos que ficaram para com os que partiram. Por isso, não havia cerca entre os dois pátios.
Brincávamos sempre juntos com o que tínhamos: pulávamos tábua, andávamos em tonéis, pulávamos elástico, jogávamos amarelinha, bate, fazíamos (de saco de açúcar cristal) e soltávamos pandorga, caçávamos borboletas, vaga-lumes, besouros (Credo! Não acredito que fiz isso), caçávamos passarinhos (Cruzes! Também não sei como eu pude fazer isso) e, num foguinho de chão - feito com pedras ao redor, cozinhávamos arroz em latas de sardinha (aquelas ovais, gigantes) para comer com as avezinhas assadas.
Nesse tempo, eu tinha uns sete ou oito anos de idade. Meu irmão era dois anos mais novo do que eu e minha irmã é cinco mais nova do que euzinha.
Nós também brincávamos muito com latas de "azeite" vazias. Tínhamos montanhas de latas diferentes. Juntávamos tudo e brincávamos construindo prédios, casas, ruas, montanhas, o que desse na telha...
Certo dia, brincávamos e começou a trovejar muito. Nossas mães chamaram pra dentro. Foi um corre-corre porque lá onde morávamos, no Oeste do Paraná, costumava dar tormenta com ventos que levavam nosso telhado cada vez. Então... era questão de recolher tudo e entrar pra dentro de casa para se esconder debaixo da mesa (único lugar seguro numa casa meia-água com duas peças - telhas de barro e sem foro.
E cada um correu recolher latas. No entanto, não sei como, começamos a brigar pelas latas. E puxa de cá, puxa de lá... Cada lado acusava o outro de ter roubado algumas latas de azeite. Saímos todos brigados.
E, claro, cada lado fez o relato para os pais...
Passada a chuva minha mãe Leo saiu de dentro de casa e chamou a minha tia Elvi no pátio. E as duas começaram a conversar sobre o ocorrido e não demorou muito para estarem a brigar por causa das latas de azeite. As acusações eram as mesmas de antes: cada lado acusava o outro de roubar algumas latas de azeite vazias.
Por fim, meu tio Baldu e meu pai Abe já estavam envolvidos brigando pelas latas. Cada casal com a tropa de filhos atrás.
Resultado: Ficamos tempo brigados, foi construída uma cerca de madeira para separar os dois terrenos e nós (os primos) só voltamos a brincar juntos uns dois anos depois. Tudo por causa de umas poucas latas de azeite vazias.
É assim, bem assim... que começam as intrigas, as brigas e as guerras...