O pedido de uma mãe

Me leva para a rua filho eu ainda tenho pernas boas; para andar sem destino, contigo não me sentirei velha. Convide-me para sua casa, filho, domingo de manhã; para compartilhar sua boa mesa e se sentir em companhia. Fale comigo com carinho, filho, não me repreenda e não fique agitado. Os velhos são como as crianças, gostamos de ser mimados, de nos fazer sorrir sem discordar. Comemore minhas ocorrências, não critique minhas loucuras. Vou tentar ser corajosa, mesmo se estiver triste. Não me afaste de você, não fale comigo com raiva. Eu ainda tenho minha mente limpa, as memórias do passado.  Venha me visitar em minha casa, filho, não vou pedir nada; apenas a tua presença e contemplar o teu rosto Não me deixe triste e sozinha, não me ponha na cama; os médicos estão errados, a minha dor está na alma. Este foi um fato real e vivenciado. Em agosto de 2013, mais precisamente, em um velório, encontrei uma tia que naquele momento ela estava ali sentada quietinha e acompanhada por outra tia. Ela era uma pessoa muito simples e que sempre morou no sítio. Quase não teve aprendizado escolar por isso tinha muitas dificuldades para ler e escrever. Ela dificilmente ia na cidade, salvo quando por ocasião de algum fato que a obrigasse a ir, como fazer alguma compra , ir a missa ou em época de eleição pra votar. Também, que eu saiba, quase não viajava e escutava um pouco o rádio e mais tarde assistia a televisão. Era mais ou menos esse estilo de vida. É claro era uma dona de casa e cuidava de todos os afazeres domésticos. Ela estava ali sentadinha, eu lembro como se fosse hoje, eu cheguei perto dela e a cumprimentei. Ela toda sorridente me perguntou quem é você? Eu falei tia a senhora não lembra de mim mas eu lembro da tia. Talvez tenha sido uma das últimas vezes que conversei com ela. Em outra vez ela já estava acamada. E em outra vez não falava e nem conhecia mais ninguém...

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 10/01/2024
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