TETÊ (BVIW)
Seria caso do acaso algo bem marcado em cartas de tarô como cantou Tetê Espíndola? Há quem diga que sim e quem simplesmente abomine tamanha sandice. De qualquer forma, não me atrevo a julgar esse assunto. Mas sei que há coisas que realmente não podemos explicar: tudo começou com um sonho. Não um sonho do tipo “desejo a ser realizado”, mas um sonho mesmo, daqueles emergidos de sonos profundos. Acordei sobressaltada com cenas difusas da senhora Terezinha, outra Tetê, sentada à mesa da cozinha tomando café e comendo bolo comigo, numa prosa que dava gosto — embora eu não me lembre exatamente sobre qual tema tratávamos. E quem é a Tetê? Uma parenta distante, prima longínqua de meu pai, talvez em terceiro grau, com quem nunca falei, mas lembro ter sido remotamente citada na família algumas vezes. O que sei sobre a ilustre figura é que ela mora distante, do outro lado da cidade. Se nunca tivemos qualquer convívio, o que estaria a senhora Terezinha fazendo dentro do meu sonho, tomando café na minha cozinha? Ainda envolta nas brumas de certa confusão, levantei-me e abri a janela para ventilar o quarto. E lá do alto quem avisto? Ninguém mais ninguém menos que a dona Tetê passando aleatoriamente pela rua. Obra do acaso ou não, juro, arrepiei nessa hora.
Tema da Semana: Por acaso (crônica)