UM LIVRO III
A ROSA DE IROXIMA E O CÉSIO 137
Nelson Marzullo Tangerini
Em 1980, muitas coisas abalaram o alicerce musical e literário: uma delas, o brutal assassinato de John Lennon (pela CIA?), que me levou a escrever dois poemas para o ex-Beatle.
A sensação de que o sonho tinha realmente acabado pairou na atmosfera do Planeta.
Mais adiante, o descaso das autoridades me levaram a escrever um poema para o Césio 137 a uma namorada fictícia. E sair em defesa de Affonso Romano de Sant´Anna, que publicara, no saudoso Jornal do Brasil, um poema sobre o mesmo tema:
“POEMA
Quero elogiar, tardiamente, o grande poeta Affonso Romano de Sant´Anna pelo poema ‘O Apocalipse em Goiânia’ (Caderno B, quarta-feira, 28.10.1987).
O poema está à altura de ‘Rosa de Hiroxima’, de Vinícius de Moraes, e ‘Os amores e os mísseis’, de Carlos Drummond de Andrade”.
A carta, publicada do JB, Caderno B, Cartas, p. 2, terça-feira, 24.11.1987, defendia o poeta do ataque de um cidadão idiota e incomodado com a dureza do poema de Affonso.
E foi assim que prossegui contestando, escrevendo e lutando, sempre, com as palavras – e tentando varrer a 1ª pessoa do singular (impossível!); não deixando de me conectar, ao mesmo tempo, com o constante tempo nublado que pairava sobre nós.
Talvez todos estes textos façam alguém refletir sobre essa era de declínio da ditadura, esse período de decomposição do autoritarismo. Talvez. Talvez, porque sou cético em relação ao que escrevo; porque sou cético, também, em relação ao autoritarismo, que volta e meia, ressurge das cinzas.
Em literatura, alguns já sabem, sou mais fã dos realistas e dos naturalistas. O conservadorismo dos românticos não me comove. Porque a vida é dura. E é com a dureza que devemos conviver no dia a dia. E encará-la com dureza, sem perder a ternura, jamais.
A poesia guerrilheira me apraz. Ela vive dentro de mim, apesar da idade. No mais, um monte de poetas está alienado a tudo, saindo pela tubulação do sentimentalismo piegas, alheio à desigualdade social.
Kátia Susano Perujo, poeta e escritora de Ribeirão Preto, SP, também leu “Venus de Millus” e me escreveu, em 3.4.1992, estas amigáveis linhas:
“Gostei muito de suas poesias. São lindas. Li todas com bastante atenção. Você é um ótimo poeta. Eu não sou crítica, mas as poesias que leio são péssimas: umas coisas sem pé nem cabeça, que não podem ser chamadas de poesia, não têm nada a ver. Você escreve com sentimento”.
No mais, ressalto a importância daqueles poetas – o romântico e antenado Castro Alves é um deles – que se não deixaram alienar diante das desigualdades sociais.
Estou inclinado a publicar este livro, e receber críticas dos detratores, também.