NOSSO PASSEIO FINAL DE SEMANA NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO
Às vezes, idealizamos algumas coisas que julgamos serem boas no momento, mas no meio do projeto descobrimos que é uma verdadeira bomba de efeito retardado. Explico!
Organizamos um passeio para uma praia que fica no litoral norte do Estado de Pernambuco. Iríamos para a casa de praia do irmão do meu marido. Um local agradável, grande, e relativo conforto. Dessa forma, passaríamos o fim de semana, que começaria na sexta-feira à tarde. Tudo estava ao nosso favor, incluindo a metereologia que apontava para muito sol, com pancadas de chuvas isoladas. Assim, arregaçamos as mangas e rumamos para o nosso final de semana na praia. Outra família amiga se juntaria a nossa. Era inicio de Maio, e desde o mês de Fevereiro que chovia, portanto a temperatura estava fresquinha. É o fenômeno chamado La Ninâ;
Chegamos às 6 horas da sexta feira na cidade, fomos para uma pizzaria, caminhamos pelo calçadão da praia. Ao chegarmos em casa, guardamos os alimentos, e tudo o que acompanha uma passeio em família. Depois, armamos a rede de vôlei e jogamos até tarde, outro grupo foi jogar dominó, outro foi tocar violão, etc. No sábado de manhã, começou ensolarado, outra família veio nos visitar e passou o dia conosco. Fomos à marina, andamos de barco, voltamos pra casa, almoçamos, quando pensamos em sair novamente, Pedro resolveu abrir as comportas do céu.
Explico melhor contando outra história que ouvi diversas vezes dos meus avós e tio maternos. “Um dia Jesus disse a Pedro: Pedro vai lá na Terra e vê como é que os homens estão se comportando, se lembram de mim. Pedro obedeceu e desceu para fazer uma visita a terra. Ao retornar, apresentou-se diante de Jesus, para prestar um relatório do viu. Jesus perguntou: Pedro, falas, o que vistes? Pedro respondeu: ah Senhor! Ninguém se lembra de ti. Teu nome está esquecido. Cada um faz o que quer. Então, Jesus disse a Pedro: tudo bem, volte lá e derrame uma pitada desse pó e, entregou-lhe um pacote. Isso fará com que eles se lembrem de mim. E, lá se foi Pedro com saco cheio de um pó. Na hora de despejar uma pitada do pó, Pedro pensou: uma pitada é muito pouco, pegou um punhado do pó e jogou sobre a terra. As conseqüência logo se fizeram sentir. Foi uma calamidade, enchentes, terremotos, secas, por toda a parte. Jesus disse a Pedro: desce novamente e vê o que está acontecendo. Pedro retornou feliz e disse a Jesus: Ah Senhor! Agora sim! Só se ouve o teu nome por toda a parte. Jesus então perguntou: Pedro, você fez o que eu lhe pedi? Jogou uma pitada do pó? Pedro respondeu: Senhor, eu vi tanta gente ingrata, esquecida de ti, andando dissolutamente que, ao invés de uma pitada, joguei um punhado...”
Essa história continua, mas agora vou voltar a minha história. O tempo fechou, havia nuvens carregadas por todos os lados e, haja chuva. Choveu a tarde inteira e noite adentro. Não pudemos fazer nada, ficamos em casa conversando, eu, as minhas duas amigas e minha filha. Os homens resolveram andar de barco e pescar na chuva, e é lógico, que não conseguiram nada. Assim, pudemos conversar livremente, foi quase uma terapia de grupo. Foi muito legal. Pudemos abrir nossos corações. O vento, a chuva e a casa que não tem forro, seja em gesso, concreto ou madeira; sentíamos os chuviscos, aumentando a sensação de frio. Foi uma experiência e tanto. Os nossos filhos disseram que fizemos fofocoterapia.
No almoço havíamos preparado arroz, peito de frango refogado com molho de tomate, salada e macaxeira cozida, que adicionamos ao frango cortado em pedaços, refogado e o molho de tomate. Aproveitamos as sobras e fizemos a ceia, que nada mais é que café, pão, queijo, leite, manteiga, cuscuz e a nossa macaxeira com frango.
Houve um momento de trégua, estiando, um dos dobermanns da casa fugiu. Na casa havia um casal adulto e dois filhotes de seis meses. Ele resolveu ir brincar com uma cabra com seus dois filhotes que ela havia parido há pouco tempo. Um deles nasceu fraquinho, e quando viu o cachorro não teve forças pra correr, foi o seu fim. O sem vergonha do cachorro trouxe o bezerrinho na boca pra casa. Tentamos reanimá-lo mais não houve jeito.
Uma de minhas amigas resolveu retornar com a família para casa, e saíram de lá por volta das sete horas. No meio do caminho ligaram-nos avisando que havia muita lama e, que eles quase atolaram o carro, (uma Galoper) na estrada de barro batido. Decidimos ficar em casa assistindo televisão, jogando dominó, etc. Às onze horas fomos dormir; como não parava de chover, e a essas alturas relampagueava e trovejava, ligamos os ventiladores para espantar os mosquitos. De madrugada, o fornecimento de luz foi cortado. Foi uma beleza, as muriçocas fizeram a festa. Ruim foi tomar banho durante a tarde e a noite, pois a água estava gelada, pois meu cunhado havia tirado o chuveiro elétrico. A cada vitima que entrava no banheiro, ouvíamos os gritos de “ai, ui, Jesus”.
No domingo pela manhã o sol estava de volta, aproveitamos fomos à praia, mas decidimos voltar pra casa mais cedo, para não pegarmos chuva novamente. Resolvemos almoçar num restaurante, e de lá rumarmos para casa. Mas, alguns argumentaram que se saíssemos ao meio dia, estaríamos em casa por volta das 14.00 horas, e que almoçaríamos em Abreu e Lima. Decidimos ir por ai. Tomamos sorvetes, água, refrigerantes e pegamos a estrada. Antes que chegássemos a BR 101, o carro do nosso amigo quebrou. Achamos que era bobagem, enquanto tentavam consertar, comemos o que trouxemos de volta, biscoitos, bolachas, refrigerantes. Paramos na entrada de um distrito chamado “Carne de Vaca”, bem em frente da casa de D. Zefinha. Mais a frente, tinha uma venda que vendia além do trivial, tinha tapioca, bolo, picolé, água, e guaraná frevo que ninguém merece.
Passamos das 12.40 às 19.00 horas ao relento, ora mudando de calçada, ora andando pelo local, ora ficávamos dentro do carro. Ah, ia esquecendo. Levamos nossas duas poodles, Kika e Belinha (Bebe) que, coitadas, estavam sem ter onde ficar. O meu filho e o filho de minha amiga queriam ir ao banheiro, e não havia lugar. Finalmente descobrimos uma latrina da igreja católica local. Meu filho mais velho decidiu ir pra casa de ônibus, e assim, foi com o meu marido e nosso amigo até a rodoviária de Igarassu, longe pra burro de onde estávamos e, nessa brincadeira já passava das 15.00 horas a muito tempo. Ele chegou em casa duas horas depois. As 17.30 Felipe ligava de casa avisando que havia chegado em paz.
Maria (minha amiga) estava com dor de dente, e eu estava com um mau humor negro. Afirmei que não faria nada pra ninguém e, que estava em greve. Por volta das 18.45 horas, precisávamos urgentemente ir ao banheiro, pois não tivemos coragem de usar o banheiro da igreja, com a maior cara de pau, pedimos a dona da casa em que havíamos acampado durante toda à tarde, e ela gentilmente nos concedeu. Às 19.10 horas, um conhecido do nosso amigo nos encontrou, fez a gentileza de dar o carro para Wilde, para podermos voltar pra casa. Assim, rebocamos o carro do Wilde para um posto de gasolina onde poderia ficar seguro, pois o posto tinha vigilância. Às 20.00 horas, finalmente conseguimos entramos nos carros e rumamos para casa. A essas alturas, estávamos com fome, cansados, sujos, as pobres Kika e Bebe irritadas, latindo a toque de caixa. Paramos para jantar às 21,00 horas, num restaurante chamado “Picanha do Gordo”.
Finalmente, chegamos em casa as 23,00 horas, cansados, aborrecidos, e ainda por cima, gastamos R$ 170,00, incluindo lanches, gasolina, jantar, etc., e Wilde R$ 200,00, pois o problema era a bobina. Falta incluir nessa história que no dia seguinte às 6.00 horas, Eudes e Wilde voltariam a Carne de Vaca para levar a peça nova e o mecânico para consertar o carro. Eles só chegaram por volta das 14,00 horas. Um prejuízo ainda maior: desgaste emocional 100%, desgaste físico 100%.
ABRIL-2006