Às segundas, eu recomeço
São quinze horas e trinta minutos de uma segunda-feira, na segunda semana de janeiro.
O sol costuma nascer às seis horas da manhã e se pôr às dezenove.
Estou sem rotina no momento e estou aqui...
Às segundas eu decido acordar e recomeçar alguma coisa.
Às terças eu decido continuar o que tentei recomeçar ontem.
Às quartas eu decido jantar com a minha melhor amiga, para nos lembrarmos de como a vida vai e vem.
Às quintas, às vezes (espero que mais vezes), eu amo alguém a quem me dedico até a manhã de sexta, quando a acordo com um beijo, um café e me despeço com um "até logo".
Às sextas estou inconstante. Às vezes eu olho pela janela do meu apartamento, observando a vastidão deste meu pequeno universo londrinense enquanto ouço blues, MPB, rock... O que minha playlist decidir tocar. Às vezes vivo na boemia de tomar uma breja com meus amigos ou com meu amor.
Aos sábados me ponho a chorar uma tarde inteira, debruçada na cama ouvindo meu gato miar, pedindo por algo que ele já tem. Ou me pedindo, talvez. Acho que ele sabe que aos sábados eu sou algo que ele não pode ter.
Aos domingos de manhã eu vou à feira observar os transeuntes em frente ao cemitério.
Há um contraste que ainda não sei prosear. Aquele cemitério, aqueles grafites, aquela gente, aquele blues em plena luz do dia. A vida. Há tanta vida naqueles muros e nas avenidas em que se estampam. A morte sempre me parece camuflada, soterrada na esperança de uma feira que vive aos domingos da manhã. E sigo com esse contraste morte/vida pelo resto do dia, tentando formar alguma poesia me lembrando, no fim, que aquilo É a poesia.
E então, às segundas, eu recomeço.