EU NUNCA OPTARIA PELA SOLIDÃO

Sinceramente, eu jamais seria um eremita. E assim afirmo porque amo a beleza da vida e gosto de viver. Os eremitas desistem do amor, do sorriso, do convívio entre as pessoas, de todas essas qualidades sociais inerentes ao ser humano. E sofrem, não posso deixar de pensar. Eles são estátuas que andam, são quase como bichos ariscos, não domesticados. Tais figuras preferem a solidão e o abandono, têm uma existência vegetativa, platônica, introspectiva. Não é vida, eu diria, mas algo semelhante a uma morte ainda não de todo concretizada. O silêncio é a sua voz cotidiana, por companhia se enamoram do nada. São tristes personagens do teatro do absurdo, só enxergam a si próprios e temem o que vêem. Uma existência de horror, enfim.

Gosto da presença de gente, do alarido de vozes, de ouvir sonoras gargalhadas, de assistir os necessitados, de dialogar, de sorrisos. Ao contrário do falecido presidente Figueiredo, que afirmava preferir o cheiro dos cavalos ao do povo, meu olfato se deleita com o odor humano. Tenho um apurado instinto de agregação social. Mãos e braços entrelaçados, olhos nos olhos, vontades recíprocas e solidariedade coletiva são atitudes carinhosas típicas de quem sente prazer em estar na presença do seu próximo.

Eu nunca optaria pela solidão. Atraem-me os semelhantes, apraz-me saber que estão vivos e trabalhando, que estudam, namoram, convivem com seus familiares ao sabor dos anos. Abrir a janela e ver pessoas a caminho de suas rotinas corriqueiras, saudar os meus vizinhos com um toque de gentileza, oferecer um gesto cavalheiresco e respeitoso a uma dama, ceder meu lugar no ônibus aos mais velhos, cumprimentar meus amigos, visitar idosos nos abrigos a eles destinados, isso tudo me é motivo de satisfação.

Quero familiares e amigos à minha volta, anelo abraçar diariamente os meus filhos e afagar-lhes os cabelos, desejo veementemente, dia após dia, olhar diretamente nos olhos de minha esposa e confessar-lhe o quanto a amo, deixar bem claro como ela é importante na minha vida. E falar para os convivas sobre os sentimentos de harmonia, paz e entendimento que pretendo dividir com eles.

Se me fosse dado ser proprietário de toda uma metrópole, completa em sua infra-estrutura, e tivesse como opção única viver sozinho em toda a vasta extensão oferecida, mas sem ninguém com quem conversar, sem viv’alma para contemplar, vivendo como solitário habitante de tanto chão e asfalto, rico e poderoso como um imperador, eu diria não. De que me serviria ser dono de tudo se não houvesse a confortadora presença dos meus iguais? Qualquer um enlouqueceria em tal circunstância. Talvez não os eremitas, que já são meio tantãs mesmo.

Ouvir a algazarra das crianças brincando felizes enternece-me o coração, e me vem a linda certeza de que a vida neste planeta, a Deus querer, continuará ainda por milhões de séculos e séculos. Para a consecução dessa assertiva, saberemos cuidar da natureza com a ternura dos amantes, domaremos a poluição com mão de ferro e sabedoria, encontraremos uma solução simples e definitiva para o aquecimento global e este belíssimo espaço onde vivemos e convivemos voltará novamente a ser o paraíso de outrora. Os bosques, florestas, rios e mares serão conservados íntegros para o bem estar de todo o eco-sistema mundial. E somente uns poucos homens, quiçá nenhum, se tornarão eremitas. Porque viver ao lado dos demais será ainda melhor do que já é hoje. A depender de mim, comecemos agora.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 30/12/2007
Código do texto: T797161
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