Antes da chuva

Eu sempre achei que certas coisas devem ser ditas de forma correta, em tempo hábil, sem muitos rodeios frente a uma possível nova realidade que virá após certos diagnóstico dados sobre a atual condição do paciente. Pode até ser doloroso, para o paciente e seus familiares, porém, certas notícias tem que ser dada. Não tem outro jeito e isso constitui um dever o paciente saber qual é o seu diagnóstico médico. Maria e Esther estão em meio a pesadas perdas. Maria é uma migrante salvadorenha que perde o emprego injustamente após adoecer e também está terminando um relacionamento doloroso com seu companheiro. Dona Esther, é uma senhora idosa com diagnóstico de Alzheimer, e claro já está perdendo aos poucos a sua memória e, com ela, suas lembranças mais importantes. Em meio a isso, elas constroem uma amizade especial e profundos questionamentos sobre o esquecimento, que resultam em uma reconstrução completa de Maria, além de proporcionar o bem estar necessário a Esther e sua filha, Soledad, em seus momentos mais delicados. Eu confesso aqui que não sou especialista no assunto e nem tenho formação específica para definir o que é o Alzheimer. Mas, pelo que se sabe tudo começa quando as células do cérebro no hipocampo, uma parte do cérebro associada com o aprendizado, são normalmente as primeiras a serem danificadas pelo Alzheimer. É por isso que a perda de memória, principalmente a dificuldade em lembrar informações recentemente aprendidas, é normalmente o primeiro sintoma da doença. É um fato real e vivenciado. Em agosto de 2013, mais precisamente, em um velório, encontrei uma tia que naquele momento ela estava ali sentada quietinha e acompanhada por outra tia. Ela era uma pessoa muito simples e que sempre morou no sítio. Quase não teve aprendizado escolar por isso tinha muitas dificuldades para ler e escrever. Ela dificilmente ia na cidade, salvo quando por ocasião de algum fato que a obrigasse a ir, como fazer alguma compra , ir a missa ou em época de eleição pra votar. Também, que eu saiba, quase não viajava e escutava um pouco o rádio e mais tarde assistia a televisão. Era mais ou menos esse estilo de vida. É claro era uma dona de casa e cuidava de todos os afazeres domésticos. Ela estava ali sentadinha, eu lembro como se fosse hoje, eu cheguei perto dela e a cumprimentei. Ela toda sorridente me perguntou quem é você? Eu falei tia a senhora não lembra de mim mas eu lembro da tia. Talvez tenha sido uma das últimas vezes que conversei com ela. Em outra vez ela já estava acamada. E em outra vez não falava e nem conhecia mais ninguém...

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 06/01/2024
Reeditado em 06/01/2024
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