Cheiro de café

Eu lembro bem que nasci em meio a uma família simples. Poderia ter sido uma família melhor? Como assim uma família melhor? Um barão e uma baronesa donos de fazendas de café ou de gado ou ainda algum industrial ou quem sabe uma família aristocrata ? Não sei dizer! Mas, a minha eu conheço de cor. Um baiano de natureza, com seus trinta e poucos anos e uma mineira de Montes Claros resolvem se unir e a constituírem uma família. E que família numerosa e eu era o quinto. Morávamos em uma pequena cidade do interior paulista na década de 50. E a região estava sendo desbravada naquele momento e formando vários sítios e fazenda de café e mais tarde gado. O progresso estava começando a chegar por ali.O lugar ao redor daquele pequeno vilarejo já era cercado por pequenos sítios ou chácaras. Meus avós certamente foram donos de uma dessas chácaras e criavam animais e aves. Meu pai tinha uma mercearia naquela pequena cidade. E nessa época já tinham três filhas mais velhas que eu e nessa hora passa um filme na minha mente ao lembrar que a minha mãe era tão jovem. Uma adolescente. Já casada, e mãe de três filhas. E com muita responsabilidade naquele momento. Era comum, naquela época, logo cedo escutar meu pai rachando lenha. Era como se fosse um despertador o som do machado batendo sobre o tronco de lenha. Lenha era o combustivel para abastecer os fogões. Quando o tronco de lenha estava seco logo era rachado e levado para o fogão. Aceso e já em brasa, agora era a hora de ferver água em um grande bule. O coador feito de uma flanela branca com uma argola de arame grosso. Era colocado várias colheres de um café moido na hora. Ainda dá para sentir o aroma. Meu pai era especialista em fazer doces. Era comum meu pai servir "tapioca" ou "biju" no café da manhã. Eu ouvia minha mãe me chamando. Hora de levantar tomar o café e ir para escola. Momentos mágicos que ficaram gravados. Pronto, mãe, já lavei o rosto, tomei o café, posso ir para a escola? E foi assim por vários anos. Minha infância querida com cheiro de café que os anos não trazem jamais!

Benedito José Rodrigues
Enviado por Benedito José Rodrigues em 06/01/2024
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