Estilo
Fim de tarde, cadeira de área na calçada, assisto (a falta de) o movimento da rua. Por mais que eu seja adepto da arte de pensar negativamente, existem algumas vantagens de morar num bairro antigo cuja a população envelhece decrepitamente.
Ligo o radinho a pilha e ouço Gama x Ceará num jogo da primeira fase da Copinha na faixa AM. De vez em quando passa um vizinho.
— Tarde.
— Tarde... Calor, não?
— Demais, mas o céu tá com cara de chuva.
—Pois é... Quanto tá o jogo?
— Zero a zero até agora.
Despede-se e segue a vida.
Às vezes aparece algum forasteiro pedindo informação sobre determinado endereço. Aqui na rua os números das casas não são sequenciais, a casa 80 pode estar a dois quilômetros de distância e não na face oposta da 79.
Um menino descalço anda gingando e pede cinco reais pra comprar um "refri". Respondo com o polegar pra baixo e ele segue sua caminhada. O vento trás uma brisa leve e, na pontualidade que lhe é comum, chega o bando de maritacas em algazarra pousando nos fios dos postes pra descansar.
Fim do primeiro tempo, entro atraído pelo cheiro de café.