Razões profundas

O chacareiro combinou com um amigo almoçarem juntos na cidade. No dia combinado surgiu um imprevisto. O que pode parecer uma simples desculpa, pode também ter explicações intrincadas.

Tudo começou com um desejo de reflorestar a beirada do rio, ano após ano mais assoreado. No Instituto Federal, onde o chacareiro fazia um curso técnico de agropecuária, foi criado o projeto São Barlomeu Vivo, com o objetivo de reflorestar as margens do Rio São Bartolomeu, importante afluente da bacia do Rio Paraná. Isso há dez anos, em 2012. O Projeto foi financiado pelo BNDES, contou com apoio do Banco do Brasil e foi conduzido por uma ONG local. A contrapartida dos posseiros ribeirinhos foi fazer cercas e atender as orientações de cuidado com as 5000 mudas de Jatobá da Mata, Mutamba, Pau Formiga, Ipê, Ingá, etc… que foram plantadas em 15 dias.

Infelizmente, o projeto enfraqueceu e a assistência técnica prometida falhou. As formigas logo tomaram conta e muito do trabalho se perdeu. As cercas que foram feitas ficaram ociosas e o gado voltou a pastejar na área.

No ano passado, dez anos passados, o chacareiro resolveu retomar a conservação das margens do rio. Fez um inventário e descobriu que não muitas mudas vingaram, mas as poucas que restaram merecem atenção. Novamente fechou a área, restringindo o acesso de animais. E para não ter mais problemas desse tipo, cessou a criação de bovinos, mantendo apenas cavalos. Mais para compor a paisagem do que obter recursos financeiros, e para desfazer um sentimento incômodo de ver a terra improdutiva, o chacareiro alugou para um vizinho seus pastos separados das margens do rio.

Chegamos à explicação com aparência de desculpa: o pasto alugado é separado do pasto à margem do rio por um mata-burro, que não estava cumprindo seu principal, senão único objetivo, que é justamente impedir a passagem de animais de uma lado para o outro. O chacareiro decidiu com o vizinho inquilino que instalariam uma porteira no lugar do mata-burro. Durante a semana comprou o material necessário, mourões, caibros, ripas, parafusos, dobradiças, e montou a porteira. Mas para colocá-la no lugar, precisou da ajuda do vizinho e de seu empregado. Às 10 hs chegaram, transportaram a porteira, cavaram os buracos, fincaram mourões e instalaram a bendita porteira. Infelizmente, esse trabalho demorou mais que o previsto, causando o atraso para o almoço com o amigo.