A potabilidade do lamaçal

A direita é sempre a última a saber

Se era fácil ferrar com os outros na internet em 2005, agora é muito mais. A velha imprensa ainda tem a velocidade da conexão discada.

O escabroso caso “Choquei” fez muita gente interromper o recesso de fim de ano para palpitar sobre opinião pública, mídia e redes sociais. Os governistas, sempre espertos, aproveitaram a presepada do companheiro Raphael para defender a “regulação” das redes sociais. A imprensa, nem sempre esperta, caçou cliques como se não tivesse, anos atrás, se submetido ao sensacionalismo da internet. E a direita, nunca esperta, caiu para trás ao descobrir como os influenciadores e suas agências manipulam governos e veículos de comunicação –como se a turma da lacração fosse muito genial, complexa ou sofisticada.

A esquerda sempre deu um baile na direita em matéria de comunicação e internet. São muitos os exemplos de temas absolutamente impopulares que ganham atenção da imprensa graças ao método de deturpação da opinião pública inaugurado pelo progressismo na década de 2000. Funcionava assim: a galera “do bem” pinçava uma falsa polêmica –podia ser uma piada, um artigo de algum crítico da causa ou uma cena de novela– e dava a ela uma dimensão irreal. Como eles faziam isso? Primeiro, eles entupiam as redes sociais da vítima do assassinato de reputação com acusações venais. Depois, pediam para os jornalistas e colunistas de sempre baterem notinhas endossando a armação.

Se era fácil ferrar com os outros na internet em 2005, agora é muito mais. A velha imprensa ainda tem a velocidade da conexão discada. As páginas de fofoca e lacração fluem como o 5G –um 5G à brasileira, mas ainda assim um 5G. Bajuladas por gente poderosa, elas se aproveitam do modelo desconstruído/disruptivo incentivado pelas novas mídias para golpear a honra e a reputação das pessoas, sejam elas públicas ou não, com memes, montagens e mentiras. Muito eficiente. Muito conveniente.

Em 2022, a plataforma Globoplay produziu um documentário sobre os erros de Valmir Salaro, ex-repórter do “Jornal Nacional” na cobertura da falsa acusação de assédio sexual e pedofilia que destruiu a vida dos proprietários da Escola Base, em São Paulo. As redes sociais produzem um caso Escola Base por dia –nasceu na web uma das acusações mais patéticas endossadas pela Globo no último ano. A diferença é que ninguém registra esses absurdos. Quem deveria prestar atenção nessas tramoias está sempre dormindo ou com cara de Pikachu surpreso.

Posso adicionar como exemplo de a nomeação de duas leis imprescindíveis à sociedade com nomes de duas calhordas, as senhoras Maria da Penha e Mariana Ferrer.

Do juiz supremo que anulou toda a sentença de condenados que fraudaram o erário público.

É um puro lamaçal, que nós, os mortais comuns da base da pirâmide, bebemos dessa água

Leandro Sarubo/OAntagonista